Os investigadores da Universidade de Coimbra, contratados pela Direcção Regional de Educação do Centro (DREC) para avaliar a concentração de gás radioactivo nas divisões da Escola Secundária da Sé, na Guarda, consideram que houve uma «interpretação indevida dos dados fornecidos pelo equipamento da escola» usado para o efeito, o que causou «alarme injustificado» na opinião pública local. A presença de radão foi detectada no último trimestre de 2003, durante aulas laboratoriais, mas as investigações levadas a efeito no local concluíram que os níveis encontrados são «inferiores aos mínimos estabelecidos pela Comunidade Europeia», revelou terça-feira a directora regional de Educação do Centro, Maria de Lurdes Cró.
Numa conferência de imprensa realizada em Coimbra, a responsável pela DREC confirmou, no entanto, a existência de concentrações elevadas de radioactividade na Secundária da Sé e anunciou ter já avançado com obras para ventilar as caixas-de-ar do estabelecimento de ensino. A ventilação dos espaços do edifício mais afectados pela libertação de gás radão do subsolo é recomendada por dois estudos científicos então divulgados pela DREC. Maria de Lurdes Cró apresentou os trabalhos de avaliação efectuados pelo Laboratório de Radioactividade Natural da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e pelo Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN) de Lisboa. O primeiro estudo, explicado aos jornalistas pelos seus autores, Alcides Castilho Pereira e Luís Figueiredo Neves, professores do Departamento de Ciências da Terra da FCTUC, aconselha uma «intervenção faseada» de forma a reduzir a concentração do gás radioactivo nas divisões da escola guardense. Para tal, os especialistas defendem a realização de obras para ventilação das caixas-de-ar situadas sob os laboratórios, afim de impedir a propagação do gás na vertical. Depois de uma reavaliação dos níveis de radão, «deverá ser ponderada a eventual necessidade de nova intervenção técnica», adianta o estudo da FCTUC, admitindo que a ventilação venha a abranger alguns compartimentos. Numa das caixas-de-ar da escola, foi identificada uma «falha geológica com mineralização de urânio».
A ventilação das caixas-de-ar é igualmente recomendada no relatório do Departamento de Protecção Radiológica e Segurança Nuclear do ITN, elaborado por João Reis e Pedro Miguel Duarte. Cruz Gonçalves, director de Recursos Materiais da DREC, disse, por sua vez, que as obras com esse objectivo já estão a decorrer e que, numa fase posterior, a monitorização da presença de radão no ar poderá justificar uma intervenção técnica mais cara. O que poderá significar a impermeabilização com tela betuminosa da laje de betão sob os laboratórios, igualmente recomendada pelo ITN, em alternativa à ventilação forçada das caixas-de-ar. Este instituto defende que, após estas «medidas minimizadoras», deverão ser efectuadas novas medições da concentração do radão, para que a sua eficiência seja testada.