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Escarigo quer ser Património Rural da Humanidade

Candidatura foi apresentada no domingo com base nas tradições, características rurais, paisagísticas e patrimoniais da aldeia

É geralmente um óbice, mas a ruralidade pode ser para Escarigo sinónimo de desenvolvimento. Tanto assim que a pequena aldeia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo está apostada em potenciar o seu crescimento com base nas suas tradições, características rurais, paisagísticas e patrimoniais. A freguesia apresentou no último domingo o projecto de classificação da localidade como Património Rural da Humanidade e vai criar uma marca homónima para valorizar produtos locais como o vinho, o azeite e o queijo, entre outros. Sob o selo de “Escarigo – Património Rural da Humanidade”, pretende-se ainda desenvolver a agricultura biológica na zona contando já com a ajuda de especialistas japoneses que estarão brevemente na localidade no âmbito de um programa patrocinado pelo governo do Japão, em que 1.700 japoneses virão durante o ano a Portugal para viver em aldeias como Escarigo.

A candidatura inédita na região foi delineada pelo jovem presidente da Junta de Freguesia local, José Parcerias, que entende que Escarigo possui características singulares «que merecem essa classificação» e podem contribuir para transformar a aldeia num «pólo dinamizador do desenvolvimento local e da região, nomeadamente nas áreas turística e cultural». O jovem autarca adianta que o projecto prevê a criação de um gabinete de apoio a todos os privados que venham a aderir à classificação de Escarigo – Património Rural para a Humanidade e de uma delegação da Associação Empresarial da Região da Guarda (NERGA). Estão também previstas várias iniciativas a realizar em colaboração com a Associação de Municípios de Alto Alagon (Espanha), que no projecto “Nuevos Encuentros” envolve os municípios de Los Santos, El Tornadiço, Endrina de la Sierra, Frades de la Sierra, Casa Franca e Moleon, em acções que prevêem a recuperação do património rural, artesanal, edificado, cultural e natural. Outra possibilidade de colaboração poderá passar pela certificação conjunta de produtos rurais, mas também pela reabilitação da malha urbana das povoações envolvidas nos “Nuevos Encuentros” e de Escarigo, iniciativa para a qual vai ser apresentada uma candidatura conjunta a fundos do programa comunitário INTERREG.

O projecto Escarigo – Património Rural da Humanidade conta já com o apoio da Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo. Armando Pinto Lopes, autarca local, considera que esta iniciativa vai de encontro «à preocupação do município em criar infraestruturas de apoio ao desenvolvimento turístico e agrícola do concelho». Uma estratégia plasmada no Plano de Desenvolvimento Económico do Concelho, que prevê um conjunto de equipamentos e acções «que devem ser realizadas nos próximos 26 anos e que permitirão a fixação da população mais jovem», referiu. Escarigo tem cerca de 160 residentes e situa-se a 2,5 quilómetros da freguesia espanhola da Bouça e a 15 da sede de concelho. Foi outrora uma das terras pertencentes aos Caminhos de Santiago de Compostela, facto testemunhado num nicho das “alminhas” emoldurado com duas Vieiras, um dos símbolos dos Caminhos Jacobeus. Com base nas “Memórias Paroquiais” de 1758 sabe-se ter sido uma povoação de porte em termos comerciais, pois ali residiam «homens de grandes negócios», «muitos mercadores», «oficiais de todos os ofícios» e muitos nobres e cavaleiros. Possuía fábricas de estamenha, sabão e de chapa, mas a sua ruína é atribuída à aclamação do rei D. João IV (1640) e ao medo de represálias por parte dos reis de Castela, que levou os seus habitantes a procurarem outros lugares.

Luis Martins

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