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Erros na alimentação pagam-se caro

Cancro do estômago é uma das doenças com maior incidência na região

A morcela da Guarda, as farinheiras, as chouriças, os buchos, maranhos ou borlhões são alguns dos enchidos que se fazem (e se comem) por esta altura de ano na região da Beira Interior. Mas estas iguarias acarretam problemas para a nossa saúde. Segundo dados recentes, a alimentação constitui directa ou indirectamente o principal factor de risco de patologias crónicas como o cancro, doenças cardiovasculares, diabetes ou osteoporose. No caso da nossa região, o cancro do estômago é uma das doenças com maior incidência.

«A cozinha tradicional portuguesa possui todas as condições para se ter uma alimentação saudável», garante Maria Helena Saldanha, catedrática de Medicina Interna da Universidade de Coimbra, que na última sexta-feira falou na Guarda sobre “Nutrição, Saúde e Doença” no ciclo de conferências “Saúde sem Fronteiras”, organizado pelo Centro de Estudos Ibéricos. O problema reside no termo qualitativo e quantitativo, porque «tudo o que seja desequilibrado é errado em termos de alimentação saudável», frisa a médica, que também contribuiu para a elaboração da famosa Roda dos Alimentos. Sendo a Guarda uma região extraordinariamente rica em variedade de enchidos, «quando se comem, esses petiscos devem ser acompanhados de legumes para a gordura equilibrar com as fibras alimentares», alerta Maria Helena Saldanha. Um dos erros da alimentação desta região está relacionado com a quantidade, pois «os enchidos são desproporcionados em termos proteicos, para além da grande quantidade de gordura». Mas há outro problema. O porco já não é o tradicional: «Se os enchidos fossem feitos desse porco não seriam tão prejudiciais, pois era uma carne com menos gordura», garante a especialista, baseando-se na investigação que realizou há alguns anos, com o professor José Gouveia Monteiro, sobre a alimentação neste distrito.

Outra incorrecção na alimentação da região, detectada nesse estudo, é o uso de sal «em demasia» na conservação de carnes e a «pouca utilização» de outros conservantes, como as ervas aromáticas, que são mais saudáveis, sublinha Maria Helena Saldanha. Por outro lado, são precisos alguns cuidados na fumagem tradicional, pois «é maior a probabilidade de se concentrarem substâncias com potencial cancerígeno» quando os enchidos são fumados a pouca distância da fonte do calor e num espaço pouco arejado. São essas e outras substâncias que têm contribuído para «um aumento do número de pessoas com cancro de estômago, especialmente nesta região, mas que já está a diminuir», revela a especialista, adiantando que essas substâncias malignas também se concentram nos grelhados «muito queimados». Para além destes hábitos alimentares que devem ser corrigidos, persiste ainda na região o problema do consumo de grandes quantidades de bebidas alcoólicas, destaca a professora. «Nos últimos tempos, começou-se a beber em demasia, não só o conhecido “néctar dos deuses”, mas também as bebidas destiladas, como whisky ou gins», diz a médica, apelando à moderação do consumo.

Patrícia Correia

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