“A Idade do Ouro”, de Luis Buñuel, inaugurou terça-feira o pequeno ciclo “Obras-Primas do Cinema Mudo” na Mediateca VIII Centenário, na Guarda. A iniciativa, que pretende divulgar algumas das obras mais marcantes de um período áureo da história do cinema, prossegue esta noite com “Aurora”, de W.F. Murnau, e na terça-feira com “A Greve”, de Eisenstein. Para Victor Afonso, coordenador da Mediateca, «é fundamental reabilitar este género de cinema e mostrá-lo às gerações mais novas», que não saberão certamente que o único realizador ainda vivo que começou a sua carreira no cinema mudo é português e chama-se Manoel de Oliveira.
A Mediateca VIII Centenário tem feito desde a sua abertura um trabalho de divulgação deste género através dos ciclos “Filmes de Culto” e “Cinema Mudo com Música ao Vivo”, para além de acções de formação, exibição de filmes e palestras. Este ciclo é por isso mais uma das raras oportunidades para ver algumas das produções mais criativas e artisticamente ricas de sempre. Mas também a ocasião para «quebrar alguns preconceitos risíveis que remetem para o mudo como a “pré-história” do cinema, que não tem interesse por não ter som e não ser a cores», acrescenta Victor Afonso, que destaca ser este um período «absolutamente essencial» da história da Sétima Arte. Aí estão cimentadas todas as suas bases estéticas e artísticas, imaginadas e postas em prática por alguns dos maiores génios do cinema, como Chaplin, Buster Keaton, Fritz Lang, David Griffith, Eisenstein, Murnau, Dreyer, Harold Lloyd, Dziga Vertov, Robert Flaherty, Pudovkin, entre muitos outros. «Conhecer o cinema mudo é também uma forma de melhor compreender a génese e a evolução do cinema, facto que ajuda a assimilar de forma mais actuante toda a cultura audiovisual contemporânea», refere o coordenador da Mediateca.
Nesse sentido, os três filmes seleccionados para esta primeira etapa das “Obras-Primas do Cinema Mudo” são representativos do cinema enquanto arte e manifestação estética, ainda que sob géneros distintos. «São paradigmas da arte cinematográfica e das correntes do expressionismo alemão (Murnau), da vanguarda russa (Eisenstein) e do surrealismo (Buñuel)», adianta aquele responsável. “Aurora”, em exibição esta noite, é um caso paradigmático. Realizado pelo alemão W.F. Murnau em 1927, o filme é considerado por muitos historiadores do cinema como o “mais belo de sempre”. Ícone do expressionismo alemão, “Aurora” é uma viagem fascinante pelo amor, traição e ódio. Já “A Greve”, realizado três anos antes por Sergei Eisenstein, represente o apogeu da arte da montagem e da vanguarda soviética. Uma greve de operários fabris no tempo conturbado da revolução bolchevique centraliza toda a acção frenética desta produção.
Luis Martins