Arquivo

Era horrível se fosse diferente?

Bilhete Postal

Horrível era bater as pálpebras e ouvir. Escutar o pelo crescer. Ter dor ao cortar cabelo. Horrível seria comandar o coração e controlar o movimento torácico. Era insuportável saber que o suor esguichava. Seria perturbador ouvir os ossos crescer e a pele adaptando-se. A vida era impossível se decidíssemos da paixão. Mesmo feio seria abanar o rabo de contente. Também difícil sentir secar as mucosas do nariz.

Mas ouvir a digestão e a entrada dos ácidos no estômago, dos alcalinos no jejuno, bolas!

Imaginem que a fé se via? Acreditar em Deus dava cor ao olhar. Caramba! Andam pessoas por aí que seriam expulsas da congregação. Imaginem que não gostar de alguém fizesse fumo nos ouvidos? Se conseguíssemos abanar as orelhas como os cães? E se a cabeça rodasse 360º? E se conseguíssemos escutar os peixes nadar, ouvir os pássaros bater as asas? E se nos deslocássemos como os cangurus? Se a traição tivesse coloração no peito? Eh pá, isto podia ser bem pior! Imaginem que quando o sexo dos homens se empertigava tocava um badalo. A falar com uma senhora insinuante e o gong a tocar! Que vergonha!

– Oh seu parvalhão! Zás, bofetada. De novo o badalo, mas porque agora se baixa!

Se a mentira surgisse luminosa e colorida na íris? Imaginem como a vida se deteriorava se não controlássemos o ar dentro. Nos filmes ouvíamos o descuido dos atores. O mundo piorava se os mamilos fossem como pirilampos e acendessem de noite? A vida melhorava se um fanático incendiasse o cabelo cada vez que odiava alguém? Percebam a violência que era uma engrenagem do pensamento assobiar, rolar. Ouvir as unhas crescer ou a dor do cabelo que cai. Houve muitos ensaios para estes corpos serem como são, porque tudo isto podia ser bem pior!

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply