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Equívocos

Ressaca, pesadelo, desilusão, resignação, desconforto, tristeza. Estas e outras emoções semelhantes apoderaram-se de todos os portugueses que se preparavam para celebrar a conquista do primeiro campeonato europeu de futebol. Antes do descalabro ninguém parecia admitir outro resultado que não a vitória. Isto apesar de a Grécia já nos ter feito sentir na pele o gosto amargo da derrota. Mas, ou porque a carreira da nossa equipa tivesse sido feita sempre a subir ou porque os gregos apesar de irem vencendo pouco convenciam, o certo é que a ideia da vitória se interiorizou na grande maioria dos adeptos. Quando muito, alguns admitiam algumas dificuldades, mas mesmo esses não fugiam a prever a vitória final. O que nos levaria a subestimar as hipóteses dos gregos? Porque é que no íntimo haveríamos de acreditar que os nossos estavam destinados a vencer, nem que fosse após algum sofrimento? Seria por jogarmos em casa? Por termos um povo inteiro mobilizado no apoio incondicional à selecção? Talvez tudo tenha contribuído um pouco para o desenho dessa ideia de vitória. No entanto, bem vistas as coisas, esses factores já tinham estado presentes quando defrontámos a Inglaterra e a Holanda e dessas vezes ninguém tinha tanta certeza de que iríamos ganhar. A que atribuir então este acréscimo de confiança? Esta ideia de que o difícil estava feito e de que o título já ninguém nos tirava? À partida até parecia que se alguma desconfiança tivesse de haver seria com a equipa da Grécia, a mesma, e a única, que nos tinha derrotado. Mas não. Estávamos todos confiantes, demasiado confiantes.

Como foi possível que tal estado de espírito, nada conveniente como se sabe, tomasse conta quer da equipa quer da grande massa de adeptos? Como foi possível equivocarmo-nos tanto em relação ao valor e principalmente à perigosidade da equipa grega, ainda por cima sabendo que a mesma havia vencido equipas tão fortes como a França e a República Checa?

Primeiro equívoco: a avaliação da nossa prestação com a Grécia no jogo de abertura em que Scolari conclui que ainda não conhecia bem os jogadores (lembram-se da metáfora da namorada e do primeiro dia depois do casamento?). Como tal decide fazer alterações, parecendo depositar agora as esperanças no núcleo do FCP, Costinha, Maniche e Deco. Entre outros é sacrificado Rui Costa, um dos jogadores mais talentosos de sempre do Futebol Português.

Segundo equívoco: depois de ganharmos à Rússia enfrentamos a Espanha no jogo do “mata-mata”. Ganhamos com um golo magnífico de Nuno Gomes e classificamo-nos em primeiro lugar do grupo à frente da Grécia. Os resultados levam, erradamente, a acreditar que esta equipa (a nossa) é melhor que a inicial, que tinha perdido Mas afinal que certeza tínhamos nós que essa equipa fosse melhor que a primeira? Se as equipas com quem jogámos foram diferentes. É o mesmo que comparar alhos com bugalhos.

Terceiro e último equívoco: Já na final, após dez, quinze minutos de jogo, é possível começar a ver o logro em que tínhamos caído. Mas ainda aí persistimos na teimosia. Scolari parece apostar na Senhora do Caravaggio, a tal que não marca mas ajuda. Mas esquece que os Deuses são gregos. E assim foi, de equívoco em equívoco até à derrota final.

PS: Por motivo de férias vou interromper a minha colaboração. Voltarei ao contacto com os leitores oportunamente.

Por: Fernando Badana

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