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Entre a Ciência e a Consciência *

mitocôndrias e quasares

Neste momento Portugal atravessa uma situação de seca extrema ou severa, como resultado de meses sem chuva. Apesar de ser uma situação passageira não deixa de ser um sinal inquietante para o futuro, que deveria despertar a consciência dos indivíduos para os problemas relacionados com a água, uma vez que esta é insubstituível para a continuação da vida na Terra, tal como a conhecemos.

Ao longo dos tempos, assistiu-se a uma redistribuição periódica da água pelo planeta, sendo esta responsável pela actual configuração dos oceanos. Na redistribuição actual, cerca de 70% do nosso planeta é coberto por água, que está presente em todas as esferas do ambiente. A reserva mundial de água líquida é, fundamentalmente, encontrada nos oceanos, embora outra fracção esteja presente como água no estado gasoso, na atmosfera e alguma surja no estado sólido, como gelo e neve em glaciares e calotes polares. A água que se encontra à superfície, constitui os lagos e rios, por outro lado, a água no interior da Terra encontra-se em aquíferos.

De toda a água existente no planeta, 97% encontra-se nos oceanos, restando apenas uma pequena percentagem de água doce. Desta, apenas 1/3 é mais facilmente acessível, dado que a restante está nas calotes polares e nos glaciares.

A pequena fracção de água facilmente utilizável seria suficiente para o Homem viver, se este a tornasse potável e a distribuísse de forma racional. Este objectivo só poderá ser conseguido se o Homem investir em duas frentes paralelas: a ciência e a consciência. Por um lado, é necessário continuar a fomentar a investigação de instrumentos e metodologias que optimizem o processo de tornar a água potável, por outro lado, é fundamental promover a consciencialização social do problema da água, envolvendo o cidadão nesse projecto.

Se no caso da ciência, os aperfeiçoamentos conseguidos irão resultar dos inevitáveis avanços científicos e tecnológicos, já no caso da consciencialização social existem diversas variáveis a considerar, tornando este processo bastante mais complexo e de desfecho imprevisível.

Desta forma, é importante redefinir, ao nível sócio-ambiental, novas relações Homem-Água, e Homem-Natureza.

No microssistema Homem-Água é necessário promover a ideia que ressalta do Comité Internacional do Contrato da Água, que afirma a necessidade de mobilizar os cidadãos de boa vontade para participarem na promoção da água como um bem comum patrimonial, e não como um bem escasso, condicionado pela problemática do preço e objecto de transacção comercial semelhante a uma mercadoria. Se assim não for, estamos a criar propriedade sobre um bem, dando a legitimidade necessária para o utilizar de forma indiscriminada, sem olhar para ele como um bem comum.

No macrossistema Homem-Natureza, o ponto fulcral desta redefinição passa por uma mudança de atitudes ambientais, que têm como veículo promotor a Educação Ambiental.

Uma Educação Ambiental eficaz vai permitir desenvolver nos indivíduos uma consciencialização para os problemas ambientais e sobretudo, uma responsabilização para actuarem na resolução destes problemas.

Esta ideia vem reflectida na definição de Educação Ambiental que resultou do Congresso de Belgrado, promovido pela Unesco em 1972, segundo o qual Educação Ambiental é um processo que visa “formar uma população mundial consciente e preocupada com o Ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha conhecimentos, competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe permitam trabalhar individualmente e colectivamente para resolver os problemas actuais e impedir que se repitam”.

Para que cada indivíduo desempenhe o seu “papel ecológico” com eficácia é necessário reenquadrar a relação Homem-Natureza. Neste sentido, o Homem deve abandonar o lugar de destaque que ocupa no planeta – Antropocentrismo, e ceder esta primazia à Terra – Ecocentrismo, tendo como fim o reequilíbrio da relação Homem-Terra.

Estes “novos enquadramentos” vão facilitar a responsabilização e participação dos indivíduos no desenvolvimento de estratégias para a preservação ambiental, em especial a água, se assentarem num equilíbrio entre a ciência e a consciência.

* Título da obra do Professor Doutor João Caraça

Por: António Costa

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