Um estudo publicado recentemente revela que os licenciados conseguem salários 80 por cento superiores aos dos trabalhadores que terminaram apenas o Ensino Secundário.
Para chegar a estes números, o autor do estudo comparou trabalhadores por conta de outrem e calculou os rendimentos até aos 60 anos. De fora dos cálculos ficaram ainda as remunerações extra-salariais associadas a lugares de chefia e o facto dos licenciados conseguirem uma reforma bastante mais elevada, dois factores que acentuariam as diferenças de rendimentos.
Feitas as contas, a licenciatura garante uma taxa de rendibilidade real de 15 por cento ao ano, um retorno francamente bom quando comparado com as aplicações financeiras disponíveis no mercado.
Estes são, quanto a mim, os dados que confirmam a justiça da aplicação de uma propina no Ensino Superior. E confirmam também que, embora os licenciados sejam uma mais-valia para o país, quem consegue o maior benefício da formação superior são os próprios licenciados. Por isso considero que os estudantes – ou os pais – devem pagar uma quota-parte dos custos relacionados com um grau de instrução que permitirá obter mais valias reais no futuro.
O Estado faz o que lhe compete: comparticipa e com a maior fatia. Para os mais carenciados, o Estado disponibiliza bolsas que permitem suportar os custos inerentes aos estudos. Para as famílias cujos rendimentos não lhes permitem receber uma bolsa, o Estado oferece bolsas empréstimo que apenas têm de ser devolvidas após a integração do licenciado no mercado de trabalho.
E até os que têm possibilidades de pagar os estudos são contemplados com o apoio do Estado, já que a propina equivale apenas a uma percentagem do custo real. A título de exemplo, diga-se que um aluno de Medicina – a licenciatura mais cara – custa ao Estado 12.500 euros/ano, e que um aluno de Letras – a mais barata – custa 2.100 euros. Num e noutro caso, os valores são bastante mais altos que os 850 euros de propina máxima cobrada por algumas instituições de ensino portuguesas. Quer isto dizer que, mesmo no caso do valor mais baixo, por cada família que paga as propinas do filho, há pelo menos mais duas que pagam um valor semelhante sem que tenham qualquer filho a estudar neste grau de ensino.
Por isso considero ser da mais elementar justiça que as famílias dos estudantes universitários comparticipem nos custos de formação dos filhos, pois só dessa forma o Estado poderá continuar a apoiar os que menos podem.
Por: João Canavilhas