O Conselho de Administração do Hospital Sousa Martins recusou o pedido de transferência para outros serviços dos 16 enfermeiros da Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). O abaixo-assinado foi entregue na passada segunda-feira após o serviço ter fechado por falta de médicos três dias antes, mas Isabel Garção, directora do hospital, negou essa possibilidade, garantindo que «se justifica totalmente» a sua permanência dado serem técnicos «altamente» especializados. «Não vamos prescindir deles de modo nenhum», sustentou, anunciando que a administração está «quase a assegurar» a contratação de um médico intensivista a tempo inteiro para a UCI.
A tomada de posição da equipa de enfermagem dos Cuidados Intensivos aconteceu após o serviço ter encerrado ao meio dia de sexta-feira por falta de médicos para assegurar o seu funcionamento nas próximas três semanas. A situação tem sido recorrente desde a sua entrada em funcionamento, em 2002, devido à carência de especialistas, já que a unidade conta apenas com uma intensivista, apoiada desde o ano passado por mais três especialistas vindos de Viseu e Porto ao abrigo de um contrato de tarefa. Contudo, nenhum deles foi escalado depois de se saber que a responsável, Luísa Lopes, iria gozar 15 dias de férias após participar num congresso. Ao que tudo indica, o fecho só estava previsto para domingo, quando António Pimentel, um desses especialistas, terminasse o seu turno, mas uma reunião com o Conselho de Administração (CA) terá antecipado o encerramento. É que a directora ter-lhe-á comunicado que não poderia receber mais doentes até lá, pelo que o médico entendeu não ser mais necessária a sua presença na Guarda e saiu na sexta-feira após a única doente internada, que já não necessitava dos cuidados intensivos, ter sido transferida para a Cirurgia. O serviço ficou então vazio e encerrado, pronto para uma «limpeza aprofundada», explicou Isabel Garção, que conta ter a unidade a funcionar no início de Abril.
Limpeza é «desculpa esfarrapada»
«As férias da directora dos Cuidados Intensivos são sempre aproveitados para a esterilização do equipamento e da unidade. Tudo está perfeitamente controlado», assegurou, admitindo haver falta de especialistas na Guarda «como em todo o país». Mas há quem desconfie e considere a justificação da limpeza uma «desculpa esfarrapada». É o caso da equipa de enfermagem, a única formada na UCI, que desmente essa necessidade com uma análise recente do Laboratório do hospital e da Comissão de Controlo de Higiene e Infecção Hospitalar, que não revelou a presença de «quaisquer microorganismos considerados patogénicos». Pelo contrário, esta interrupção «só acontece porque o CA foi incapaz de assegurar o apoio dos restantes médicos. Tudo o resto é tapar o sol com a peneira», garantiu fonte hospitalar, que trabalha naquele serviço. Contra a instabilidade vivida no serviço, os enfermeiros reuniram no sábado e concluíram que este fecho é «gravoso e inadmissível» e lamentam que a situação venha acontecendo «sistematicamente» há três anos. «Já estamos fartos e queremos saber o que contam fazer com a UCI na Guarda», disse um dos elementos, revelando que enquanto o serviço estiver fechado não se poderão realizar no Sousa Martins cirurgias de acesso toráxico por não haver local para assegurar a ventilação dos doentes.
Na carta, a que “O Interior” teve acesso, questionam se é por «tempo indeterminado ou definitivo» e denunciam o consequente «sub-aproveitamento» de técnicos especializados e de equipamento. «A UCI é uma mais-valia para o distrito e o país em geral, tanto pelos seus cuidados diferenciados, como pela resposta que dá em tempo útil a situações de emergência/risco iminente de vida intra e extra-hospitalar», refere a missiva. Nesse sentido, garantem que uma equipa de dois enfermeiros vai manter-se permanentemente no serviço «aptos a prestar cuidados diferenciados e mantendo os equipamentos preparados e testados». Enquanto a UCI permanecer fechada, os doentes vão ser tratados nos cuidados intermédios, que possui duas camas. Já os casos mais graves, designadamente politraumatizados, continuam a ser tratados nos Hospitais da Universidade (HUC). Actualmente, e com base em dados da ARS Centro, as quatro camas da UCI do Sousa Martins registam uma taxa média de ocupação de 50 por cento.
Luis Martins