Galiza, Castela e Leão e o Norte de Portugal uniram-se, há cerca de um ano atrás, para criar uma macro-região com vista à cooperação em domínios como a economia, a ciência e a cultura. Mas para o projeto alcançar «maior dimensão» e obter fundos comunitários «é necessário incluir mais regiões», nomeadamente os distritos do Centro do país, defendeu o presidente da Associação Empresarial de Portugal, numa reunião que decorreu no NERGA na passada segunda-feira.
Segundo José António Barros, a constituição da RESOE (Regiões do Sudoeste Europeu) poderá significar, na prática, angariar os fundos europeus que estarão disponíveis no quadro de apoio 2014-2020. «Precisamos ter mais regiões e estados na RESOE para concorrer com as outras macro-regiões no acesso aos fundos comunitários. Caso contrário, seremos “comidos” e receberemos apenas umas “migalhitas”», alertou o dirigente. Mas afinal o que falta para que cidades como a Guarda, Leiria, Coimbra ou Viseu integrem esta macro-região? «Envolvimento político», respondem os empresários. Os contactos com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR) ou até mesmo com a Câmara da Guarda parecem ter-se revelado infrutíferos. «O poder político local desconhece completamente este projeto, o que para mim é um absurdo», lamenta o presidente da Associação Empresarial da Guarda (NERGA), que se associou ao projeto.
Pedro Tavares garante que chegou mesmo a expor o assunto a vários vereadores e tentou reuniões com a CCDRC, mas sem sucesso. Na opinião destes empresários, a Guarda tem potencial que não está a ser devidamente explorado, uma realidade que pode mudar caso seja incluída na macro-região. «Faz fronteira com Castelo e Leão, tem uma plataforma logística praticamente concluída e está junto às linhas férreas mais próximas que ligam Portugal ao centro de Espanha», afirma José António Barros, acrescentando que «com a finalização do canal do Panamá, haverá alterações de rota nas exportações e a Península Ibérica passa a ser central em relação ao comércio mundial». Ou seja, há razões suficientes para que a integração desta região na RESOE faça sentido, permitindo ao mesmo tempo que se estreitem laços com outros pontos da Europa. No entanto, é a questão política que parece ensombrar o desenvolvimento do projeto. «Estamos muito aquém do que é a dimensão de uma macro-região e cria-nos alguma espécie se toda a zona Centro ficar de fora», considera Pedro Tavares. Por sua vez, José António Barros diz mesmo que se o poder político não se envolver «a Guarda volta a perder, tornando-se mais pobre e periférica». Assume, por isso, que «esta macro-região não pode falhar», sobretudo porque nas circunstâncias financeiras em que o país se encontra «seria criminoso não apanhar todo o dinheiro possível» dos fundos europeus.
Por agora, o objetivo é agitar consciências em Portugal, nomeadamente nos distritos do centro do país, e em última instância alargar a RESOE a outras regiões espanholas e ao sul de França, para que ganhe «mais massa crítica e nova dimensão».
Catarina Pinto
