Chegou ao fim quele que foi, seguramente, um dos piores anos das nossas vidas. Deprimidos, esperamos que o pior já tenha passado. Porém, não tenhamos ilusões, 2013 pode ser ainda difícil. Para os portugueses, como para os europeus, não há nada para celebrar na entrada do novo ano. Salvo que sobrevivemos. Sobrevivemos mas com imenso sofrimento.
Por toda a Europa os governos «fazem o que têm a fazer», contrariados, para reorientar a economia e as finanças públicas. Procuram soluções que evitem o colapso económico, que criem emprego e reduzam o défice.
Em Portugal, o governo impõe a austeridade como um meio para o empobrecimento. A meta não é reformar para desenvolver, não é cortar para progredir. A meta é desmantelar e destruir o país tal como o conhecemos para “abaratar” o trabalho e assegurar uma certa sobrevivência. A meta é cumprir os ditames dos credores sem protestar, sem discutir, na inebriante execução de um compromisso imposto e que nos pode resgatar como país mas que nos mata como povo.
Os indicadores económicos e as intenções do governo não auguram nada de bom para 2013. Para começar, e no pressuposto que o diploma não esteja pronto para ter eficácia já em janeiro, a diluição pelos 12 meses de 2013 de metade dos subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores do sector privado vai ser mais um murro no estômago dos que ainda trabalham. Com a diluição por duodécimos, o governo diminui a perceção do impacto fiscal que sofremos. Mas a verdade é que cada trabalhador vai passar a ganhar muito menos e as consequências da opção impõem tacitamente um empobrecimento generalizado e antecipa maiores dificuldades para a economia – sem dinheiro, os consumidores vão comprar ainda menos e as empresas vão fechar ainda mais.
Com mais de um milhão de desempregados e pessoas a emigrarem todos os dias à procura de soluções no exterior para o seu futuro, os portugueses estão condenados a uma nova ordem, mais pobre e com menos direitos. Cruzámos os braços até 15 de setembro, protestámos desde então, mas o governo não vê, não ouve e não quer mudar as opções destrutivas que empreendeu.
Foi sem surpresa que ouvimos a notícia de que em Portugal já há mais funerais do que partos. Sem políticas de natalidade, sem apoio às famílias e apreensivos, como é que os portugueses podem ter filhos.
Pior, a austeridade imprimiu um regime de medo, verdadeiro pânico, em que os trabalhadores aceitam tudo para manter o seu lugar. E se há muitas empresas que não têm já com que pagar os seus compromissos, há setores por entre a crise, a ganhar dinheiro, alguns muito dinheiro, mas por puro oportunismo, por falta de decoro e de humanidade, imoralmente atrevem-se a aproveitar as circunstâncias para baixar os salários dos seus trabalhadores. Se pagavam 600 euros agora só aceitam pagar 500… e dessa forma raptam milhares de euros aos assalariados com que compram os produtos de luxo que por aí vão exibindo (veja-se que só os setores de luxo estão a passar ao lado da crise, seja nas lojas de marca da Avenida da Liberdade ou nas viagens ao Brasil, seja na compra de carros novos de luxo ou nos gadgets tecnológicos mais sofisticados, do LED ao iPad…). Tudo o que serve para exibir riqueza e luxúria vende-se como nunca. Os compradores são empresários pouco escrupulosos e exploradores cuja atividade cresce (que ainda os há felizmente), mas também quadros superiores do Estado que auferem rendimentos de milhares de euros e até reformados com boas pensões porque trabalharam «toda a vida» com salários baixos e baixos descontos e foram sendo aumentados até se reformarem pensões milionárias e imerecidas (aqui o governo até tem alguma razão).
É neste cenário desolador que chegamos a 2013. Feliz ano.
Luis Baptista-Martins