Estamos mais pobres (…). Num dia luminoso de sol, a 19 de Novembro de 2003, o Jerónimo Brigas, aquele homem de estatura grande e coração de menino, partiu a caminho do além.
Nasceu artista e complementou-se sem encostos nem bajulice! Parece que ainda pairam no ar as palavras de confraternização com ele trocadas na inauguração da colectiva da Egicar quando somos confrontados com este facto impiedoso. O meu pensamento de solidariedade e amizade vai também para aquela velhinha Mãe de cabelos brancos, que acabou de perder o seu amado Jerónimo, e nós, colegas de arte, um particular amigo e carismático companheiro de tantas jornadas, que recordamos com orgulho e que já é uma saudade. Os momentos de convívio, quer em exposições individuais ou colectivas, traziam sempre boa disposição, porque o Brigas também era um mestre relatando hilariantes situações vividas ou dissecando anedotas oportunas ao momento.
A morte interrompeu uma carreira artística no auge das suas enormes capacidades. Muitas praças, jardins, recantos de vilas e cidades, edifícios oficiais, casas particulares em Portugal e no estrangeiro, desfrutam das suas inconfundíveis obras, chanceladas pelo cunho de uma criatividade singular. Ele tratava a madeira e a pedra com mestria e fraternidade, crescendo as suas obras de forma generosa entre as robustas mãos que brandiam o escopro ou o cinzel, por vezes de forma impetuosa ou em perfeito e suave diálogo, sempre na busca de um desfecho feliz. A escultura era uma paixão incontornável, que o perpetuará para sempre.
Mas Brigas também desenhava com predestinada naturalidade. Do seu traço estilizado e inconfundível surgiam frequentemente Cristos suportando o peso do egoísmo humano, espécies de animais alados, confundindo-se com bizarras atitudes humanas ou a lágrima vertida pela mulher em abandono na noite vazia (…). O Brigas viveu livremente, amando a arte e a independência que a simplicidade confere. Que Deus te abençoe!
António Barreiros, Guarda