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«Em 2009, vou à luta por 14 Câmaras»

José Albano Marques recorda que Eduardo Brito optou pela Área Metropolitana de Viseu «na única vez que pôde demonstrar que estava com o distrito» e afirma que não é ele que atribui cargos, mas sim o poder central

P – Desde Fevereiro que tem a vitória assegurada. Ainda vale a pena ir a votos?

R – Eu não acredito em vitórias antecipadas. Estou a motivar os militantes desde a primeira hora para que acreditem no meu projecto e estejam comigo até dia 24 [amanhã] – data fundamental para os destinos do distrito. Espero que a onda que se gerou em torno da minha candidatura corresponda à realidade em votos. Sei que o meu adversário não acredita nisso, mas tenho a certeza de que será assim.

P – Quais são os objectivos da sua candidatura?

R – Pretendo sensibilizar a sociedade civil para que participe numa política mais activa, através da criação do Fórum Novas Fronteiras – Guarda, que vai ser liderado por João de Almeida Santos, presidente da Assembleia Municipal da Guarda. Depois, há a Universidade Novos Desafios para aproximar a população das decisões políticas. A um nível mais interno, vamos apostar no boletim informativo distrital, cuja primeira versão já saiu e teve, aliás, uma óptima aceitação. A criação do Conselho de Presidentes de Concelhia – há tanto tempo ambicionada – será outra das minhas prioridades, até porque eles serão o meu “braço forte”.

P – O que propõe de diferente aos socialistas em relação ao seu adversário?

R – Ando há uma data de meses a tentar estabelecer diferenças, mas como ainda não consegui estabelecer uma comparação… Eduardo Brito está conotado com uma política antiga, que já não interessa ao distrito. Foi um excelente autarca e defendi-o sempre por isso, mas esta ambição desmedida de querer ser presidente da Federação para chegar a deputado na Assembleia da República e considerar que é um político de craveira leva-me a acreditar que as suas ambições são pessoais e não distritais. Aliás, nunca vi Eduardo Brito envolvido em questões distritais que pudessem legitimar a sua candidatura a este órgão. Na única vez que pôde demonstrar que estava com o distrito optou pela Área Metropolitana de Viseu. Isto é, deixou a Guarda quando lhe deu jeito.

P – O que terá faltado para haver uma lista de consenso?

R – Não acredito em consensos. Acredito em união, no bom senso dos camaradas do PS, mas nunca entro em consensos porque, ao fazê-lo, estou a abdicar do meu projecto: um projecto capaz, organizado e que apenas promete dialogar, trabalhar e ouvir o militante. Há camaradas que acham estranho como consegui fazê-lo, mas a verdade é que, passados estes meses, provei que é possível. Só é preciso meter a preguiça na “gaveta” e “dar corda” aos sapatos. Os militantes não teriam reconhecido o meu projecto e o meu desejo de mudar o distrito se eu tivesse feito uma política de consenso para que aparecesse apenas uma lista.

P – É dos que considera que Joaquim Valente poderia conseguir o consenso?

R – Sim. Joaquim Valente é meu amigo pessoal, tem-me dado muito apoio e simboliza aquilo que de bom há na política. É um excelente presidente de Câmara, uma pessoa boa. Ainda tem muito para dar ao PS. Se avançasse, teria o meu apoio, sem dúvida. Cheguei a dizer-lho. Quando entrei para esta luta fi-lo de uma forma ambiciosa, mas consciente de que falei com as pessoas que decidem no distrito e com as que mais admiro na política.

P – Como vê o estado actual do PS no distrito?

R – Prefiro acreditar que vou começar um projecto do zero. Se partir desse princípio, não deixo que faltem forças à minha equipa para que, em 2009, ganhe Câmaras, porque é esse o objectivo. Parece que, ano após ano, toda a gente tem medo de dizer que se pretende ganhar Câmaras – talvez para que depois não se fique aquém das metas estabelecidas. Mas não me importo de dizer que vou à luta por 14 Câmaras.

P – Como vê o desempenho dos deputados eleitos no distrito da Guarda na AR (Pina Moura, Fernando Cabral e Rita Miguel)?

R – Vou começar, muito em breve, um trabalho específico com os deputados. Aliás, com a Rita [Miguel] já comecei a discutir assuntos de interesse distrital. Vou tentar criar uma nova dinâmica e fazer com que os dois deputados me acompanhem nas visitas aos concelhos para que tentem transmitir a mensagem junto de quem é necessário fazê-lo. No fundo, serão mais dois elementos vitais que terei a trabalhar comigo até às próximas legislativas.

P – Rita Miguel vai continuar na Assembleia da República?

R – A Rita Miguel é uma pessoa com quem estou a desenvolver um óptimo trabalho. Temos de demonstrar à população tudo o que ela está a desenvolver. Essa divulgação é fundamental para mostrar que o PS, quando aposta em gente jovem, consegue mostrar resultados.

P – Não o preocupa que o cidadão comum não reconheça, nem se aperceba do papel destes deputados?

R – Temos todos que “dar a mão à palmatória”: há trabalho que fica na “gaveta” e que nunca é alvo de notícia, porque a própria organização do PS não tem funcionado. Não damos visibilidade às pessoas que têm trabalhado pelo partido, que estão em Lisboa com muito sacrifício e longe da família.

P – Propor a eleição dos candidatos a deputados em primárias significa que o modo como foram escolhidos até agora não é representativo dos interesses do partido na Guarda?

R – Na última semana, Eduardo Brito acusou desgaste e mau perder. Foi disso que me apercebi quando li nos jornais as suas declarações desagradáveis. Até poderia concordar com o argumento “primárias”, mas não posso deixar de interrogar se Eduardo Brito, enquanto presidente de Câmara e candidato que foi estes anos todos, em algum momento submeteu a sua lista à apreciação da Comissão Política Concelhia de Seia? Nunca! Nem no último acto eleitoral deixou que se fizesse. Só para presidente da Federação é que é preciso primárias para os militantes votarem em consciência? A mim não me apoquenta nada. Aliás, tomara eu que houvesse primárias, porque depois do resultado eleitoral de certeza que o meu adversário vai deixar de falar sobre esse assunto… Se o medo dele era que eu viesse a ocupar algum lugar de deputado, as concelhias vão reflectir isso na votação. E também não tinha nenhum problema em ir a primárias. Contudo, desde a primeira hora que abandonei essa “guerra”, porque não é importante para o distrito, por agora. A seu tempo, depois de ter o PS organizado, irei falar aos militantes para tentarmos, em acordo, – depois da Comissão Política Distrital e do Secretariado estarem eleitos – discutir qual será a melhor metodologia para a escolha dos deputados. Se serão primárias ou outra… só o órgão competente poderá pronunciar-se.

P – Que opinião tem de Eduardo Brito?

R – Até há pouco tempo tinha dele a ideia de uma pessoa sincera, com consciência e de um bom autarca (e não lhe retiro a parte do bom autarca). Porém, não posso deixar de mostrar a minha indignação por aquilo que tem dito e insinuado. Está a ferir pessoas da minha candidatura. Deixou de me atacar a mim directamente para tentar mostrar à população e aos militantes que todos os que andam comigo o fazem por interesse. E, de facto, há interesses subjacentes, mas em ganhar Câmaras e tirar o PS da situação caótica em que se encontra. Jamais por lugares políticos. Não o fiz, não o prometi e fiquei surpreendido quando vi acusações de que já há deputados pela lista da Guarda, lugares para os directores da Segurança Social, enfim… Só falta mesmo uma carta do bingo para Eduardo Brito chegar aqui e tirar à sorte para ver se lhe calha também qualquer coisa. Ele devia ter cuidado, porque estamos a falar de camaradas que já deram muito ao PS e que, como eu, neste momento, estão chateados, magoados e dificilmente – enquanto ele não se retractar publicamente daquilo que disse – conseguirão esquecer o que foi explanado na comunicação social.

P – A esse propósito, o que é que prometeu e a quem?

R – Eu não prometi rigorosamente nada que não seja trabalho, diálogo e ouvir todos os militantes. Se estiverem à espera de um lugar político, devo dizer que nunca vi isso acontecer em lado nenhum, pois é o poder central que toma esse tipo de decisões. Sei que vou ser ouvido, assim como o actual presidente da Federação foi ouvido noutro tipo de decisões. O que lamento é que se continue a passar a ideia de que quem ocupa lugares de nomeação política não é por mérito, mas por “tachos”, aproveitamentos e interesses pessoais. Isso, vindo da boca de quem está há mais de 20 anos numa Câmara e esteve sempre nos secretariados das Federações, é como dizer que até agora foi assim e que comigo não será diferente, porque eu também hei-de ter o meu “staff” para encaixar nesses lugares. Mas isso não é verdade. Ainda nem me preocupei em arranjar o meu Secretariado. No dia 24 vou ver o resultado e, se ganhar, tratarei de o arranjar. Promessas, não faço nem fiz.

P – Fala em renovar o partido. Mas como fazê-lo com apoiantes que são, ou foram, dirigentes há vários anos?

R – O meu projecto de renovação é um misto de experiência e juventude. A juventude é fruto do dinamismo de quem me acompanhou. Se não utilizarmos a juventude que vai dentro de nós ao serviço do partido acaba por se instalar a preguiça. Depois, é uma honra muito grande ter ao meu lado camaradas antigos que têm vindo a dar e que já deram muito ao PS. Foi neles que me inspirei, foi com eles que aprendi a reflectir sobre os princípios do partido. É uma honra enorme ter nas mesmas lista a Juventude Socialista, as Mulheres Socialistas e aqueles que, noutros tempos (autarcas de grande prestígio), ganharam grande combates e estavam lá quando o PS necessitou.

P – Sendo eleito presidente da Federação, como tudo indica que vai ser, é candidato a deputado?

R – Quando me candidatei a presidente da Federação nunca me disseram que uma coisa implicava, automaticamente, a outra. Digo, desde a primeira hora, que não discuto essa metodologia. Se chegarmos a Abril ou Maio e o partido decidir de outra forma, cá estarei para acatar uma ordem ou uma indicação do PS. Mas nunca disse que ia ser ou que não ia ser. Neste momento não o sou de certeza, porque sou apenas candidato a presidente da Federação. Infelizmente, o candidato Eduardo Brito decidiu ao contrário e já disse que é o melhor cabeça-de-lista à Assembleia da República. Esquece-se é que, primeiro, tem que chegar a cabeça-de-lista da Federação e impor a sua metodologia.

P – Admite a possibilidade do cabeça-de-lista, ou número dois, ser alguém imposto pela direcção nacional?

R – Nunca gostei que me impusessem nada, mas respeito estatutariamente aquilo que o partido define. O PS tem uma quota nacional, toda a gente a conhece, muitos já a contestaram, só que nunca a conseguiram evitar. Não sei qual será a realidade, nunca me preocupei em debater isso. Penso que haverá reuniões prévias com quem decide.

P – O que pensa do PIDDAC para a Guarda?

R – Antes de me pronunciar sobre o PIDDAC gostaria de reunir com os presidentes de Câmara. Nunca falarei de desenvolvimento local sem primeiro ter a sensibilidade dos autarcas. É um princípio que está subjacente à minha candidatura. Em conjunto, iremos analisar o que ficou aquém das expectativas e o que foi bom para o distrito. Só depois nos pronunciaremos.

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