A desertificação das aldeias do interior do país tem sido responsável pelo aumento do número de freguesias que elegem os seus representantes em plenários de cidadãos. Exemplo disso é o caso do distrito da Guarda que enfrenta um desafio cada vez maior. Em 2005, 40 das 336 freguesias dos 14 concelhos votaram em plenários de cidadãos.
Almeida tem o maior número de localidades nesta situação (12), seguindo-se Guarda e Sabugal (seis), Pinhel (cinco), Figueira de Castelo Rodrigo (quatro), Fornos de Algodres e Meda (dois), Celorico da Beira, Trancoso e Vila Nova de Foz Côa (um). Luís Figueiró, presidente da Junta de Freguesia de Avelãs de Ambom, no concelho da Guarda, com 103 eleitores, está a cumprir o quarto mandato e «sempre» foi eleito em plenário. «São os cidadãos eleitores que se representam a eles próprios», elegendo os três elementos que formam o executivo (presidente, secretário e tesoureiro). «É uma eleição preparada na hora e, no caso da minha freguesia, ocorre até oito dias depois das eleições para a Assembleia e Câmara Municipal», disse. O jovem autarca acrescentou que «um número mínimo de cinco eleitores pode elaborar uma proposta de constituição de uma lista com três nomes que será votada nessa mesma reunião».
Luís Figueiró adiantou que nas freguesias onde são constituídas mesas eleitorais «costumam surgir guerrilhas partidárias devido à intervenção dos partidos», coisa que não acontece na sua aldeia onde os eleitores «não estão sujeitos à pressão política». Já Paulo Marques, presidente da Junta de Cidadelhe, no concelho de Pinhel, com cerca de 70 eleitores, disse que a freguesia já tem uma longa tradição na realização de plenários de cidadãos. «Desde que nasci que foi sempre assim», referiu o autarca de 38 anos, indicando que no acto eleitoral de 2005 apenas se apresentou a lista que liderava. No entanto, não esconde a tristeza por verificar que em Cidadelhe «não têm nascido crianças e só este ano morreram quatro idosos». Em Seixo Amarelo, na Guarda, já se elegeram os seus representantes em plenário, mas desde 1993 que isso deixou de acontecer. O autarca local Firmino Cairrão disse preferir «a eleição normal», porque significa «que há mais eleitores e mais gente na aldeia», mas os habitantes «não ligam porque votam sempre nas pessoas».