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Crónica Política

Ansiedade, futuro promissor, emancipação… Realidades e sonhos que pairam agora nos jovens depois de, na passada semana, terem conhecido os resultados da primeira fase dos exames nacionais para o ensino superior.

Esta é uma altura sempre muito difícil para as famílias dado o paradigma sócio-cultural português, onde uma formação é ainda percecionada como um degrau de acesso a uma profissão mais ou menos vitalícia. Este é o sonho em que querem acreditar as famílias, os pais que “têm sentido na pele”, hoje mais do que no passado, dadas as evoluções sociais e políticas de um regime democrático conquistado, veem neste momento a necessidade de acreditar que tudo vai mudar, esperam um horizonte temporal de 3 a 4 anos, para que o país tenha os almejados empregos para os novos formados e se assim não for… Para quê viver dias, meses e já anos de afunilados constrangimentos financeiros. Precisamos acreditar.

Será este o caminho certo?

É claro que é, apostarmos em nós próprios, frequentarmos uma formação de base e continuarmos nessa aposta constante de sempre saber, sempre aprender para sempre se estar apto a, é o melhor caminho. A imagem que vejo na maioria dos jovens universitários é a vontade de sair e estudar fora, especializar-se com apostas em MBA’s, pós graduações, mestrados, doutoramentos, voltar e tornar a sair do país para ganhar mais experiência. Com quem falo, e acompanho no seu percurso académico, poucos dizem querer uma estabilidade profissional nos primeiros 10 anos após o curso. Acho que essa imagem do passado, provavelmente da minha geração, já não é a ambição dos jovens de agora. O futuro profissional deles é de mudança constante, constante adaptabilidade e muita incerteza. E eles têm consciência disso. Por outro lado, as instituições de ensino superior estão hoje, mais do que nunca, preparadas e envolvidas nesta nova ideologia, não negando o que de bom há no país, mas mais do que a internacionalização, tão necessária às instituições académicas, há ainda a vontade de dar cartas lá fora, de, em cada aluno que sai para estudar fora ou completar um ciclo de estudos, nos podermos orgulhar do que sabemos e que somos bons. Sei que nem sempre é esta a visão que temos de Nós, mas acreditem que no meio académico os que saem são conotados como os bons, preparados e, naturalmente, como a insularidade faz parte da nossa formação pessoal, também nos esforçamos, sempre mais do que outros, para sermos efetivamente bons. Isto é mau? Não creio, como docente universitária e como mãe, é esta a visão que tenho e na qual acredito.

Cabe (é neste acredito) às “instituições políticas” que possam fazer o resto, apoiem as famílias neste percurso, premeiem os alunos que se esforçam e que de fato querem este caminho, apoiem as instituições académicas neste fim, façam o seu papel e deixem-se de números…

Apenas como esclarecimento, aos recentes dados publicados pela Direção-Geral das Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) sobre números de vagas, cursos e cursos que encerraram, o concurso nacional de acesso ao ensino superior de 2014 apresenta uma quebra, inferior à registada nos anos anteriores, assim os mais de 50 mil lugares disponíveis representam menos 641 do que os definidos há um ano. Porém, devemos centrar-nos no seguinte: desde 2008, a população portuguesa diminuiu 135.713 indivíduos (1,28%), uma quebra de 641 lugares para este ano representa uma redução de 1,24% da oferta, neste sentido parece que se trata apenas de seguir a evolução demográfica. Onde está o problema?

O ensino a todos os níveis sociais é indispensável para todos os cidadãos na vida ativa e profissional. O dinheiro, por vezes, é cegueira no desenvolvimento de uma carreira profissional numa sociedade em que o desemprego afeta toda a vida social e económica.

É urgente uma classe política responsável que perceba a importância da maturidade, da constância necessária à maturidade, das políticas públicas na área da educação, que perceba que existe monitorização internacional, ou seja, que entenda a existência de compromissos que expurgam visões pessoais de políticos que nada sabem sobre o real das instituições de ensino superior. Só assim podemos abandonar esta fase em que o estado da educação se encontra, demasiado ideológica, imatura, vulnerável sobre a sua matriz e que daqui resulta um enorme marcar passo de dispêndio de energia condenado ao absurdo. É um grave problema de falta de visão para o país.

Desculpas há muitas: a demografia, a renovada exigência dos exames, a empregabilidade, a racionalização da rede do ensino superior. Mas uma sociedade que estuda menos pensa menos e, naturalmente, afasta-se do mundo. Sejamos otimistas, não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.

Este ano, o ensino superior contará, pela primeira vez, com uma outra modalidade de frequência. Os novos cursos técnicos superiores profissionais, com a duração de dois anos e que serão ministrados apenas em institutos politécnicos, vão avançar, estando a ser ultimada a definição da oferta em cada instituição. A Guarda tem muito a ganhar, saibamos apoiar e acreditar nesta outra modalidade que no Instituto Politécnico já se prepara.

Por: Cláudia Teixeira

* Militante do CDS-PP

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