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Editorial

A rapidez com que a sociedade contemporânea se transforma leva-nos a que muitas das vezes não tenhamos tão pouco hipóteses de nos debruçar de plena consciência sobre como evoluíram e mudaram em tão pouco tempo, os objectos que nos rodeiam, a forma como trabalhamos, as nossas relações sociais, as nossas cidades, os nossos conhecimentos, …

No domínio do urbanismo esta apropriação plena da mudança é ainda mais difícil já que o conjunto edificado evolui de forma relativamente lenta e além disso, estamos especialmente ligados aos lugares mais antigos e dos quais temos a sensação de que apresentam uma maior urbanidade do que aqueles que se concebem na actualidade.

No entanto, a verdade é que a cidade está em constante mudança e o seu dinamismo tenta ir ao encontro dos desejos e das necessidades do cidadão sem que se transforme numa soma de interesses individuais.

Um dos factores decisivos desta e para esta dinâmica urbana é o comércio devido ao desenvolvimento da sociedade de consumo. Infelizmente, nas últimas décadas, as implantações comerciais de grandes áreas nem sempre tiveram por base princípios de estratégia urbana de modo a integrar o comércio na cidade mas sim as lógicas dos actores comerciais em causa.

Felizmente, na cidade da Guarda, a localização do recente Centro Comercial pautou-se por uma integração em pleno Centro Urbano e assim contribuir não só para a criação de fluxos no sentido do centro e não para a periferia como acontece numa maioria dos casos mas também para uma qualificação do espaço urbano.

Em constante transformação está também o comércio de proximidade que sentiu um acentuado decréscimo a partir dos finais da década de setenta devido à evolução dos modos de vida que se afirmaram nessa época.

O abastecimento nas grandes superfícies revelou-se na altura como uma melhor opção para os consumidores quer do ponto de vista do custo quer do tempo passado a fazer compras.

Felizmente hoje, e em alguns países, o nicho do comércio de proximidade parece ser mais promissor. A alteração nos horários laborais, a composição do agregado familiar, entre muitos outros factores e até o desencanto a respeito das relações impessoais nas grandes superfícies comerciais levam ao reatar dos laços de proximidade.

O comércio de proximidade tem um papel fundamental num contexto urbanístico sustentável e estruturado já que este oferece não somente um serviço útil para o cidadão mas desempenha ainda um importante papel na animação da vida urbana e na qualificação e segurança do espaço público.

Será talvez devido a esta importância estratégica que o comércio de proximidade possui, em termos urbanísticos, que o poder central tem vindo a apostar de ano após ano no seu apoio através de programas comunitários como o MODCOM e o MERCA.

Programas que poderão e deverão contribuir para uma reestruturação deste tipo de comércio já que é necessário repensar a estratégia comercial de proximidade de modo a fazer frente aos actuais e futuros desafios e exigências da vida citadina.

O comércio de proximidade é peça chave dos novos princípios do urbanismo e faz parte de um verdadeiro compromisso urbano como condição necessária e imprescindível para manter a coesão social e a complexidade funcional da gestão urbana.

António Saraiva

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