Arquivo

E da água surgiu vida!

mitocôndrias e quasares

Desde a Grécia Antiga que o ser humano procura explicações sobre a origem da vida na Terra, tendo sido avançadas várias hipóteses por parte dos maiores pensadores dessa época, com especial destaque para Aristóteles. Este defendia que os organismos poderiam surgir por geração espontânea, a partir de matéria inerte, por acção de um princípio activo que actuava sobre essa matéria. Os organismos que se formavam de um modo súbito e espontâneo apresentavam sempre as mesmas características, permanecendo imutáveis ao longo dos tempos.

A ideia de imutabilidade foi aproveitada por uma outra linha de pensamento – o Criacionismo – que a considerava uma das ideias mais fortes da sua teoria. Os criacionistas acreditavam que a vida na Terra fora da responsabilidade de uma entidade superior, um Deus, que tinha criado as primeiras espécies, e que, a partir daí, não tinham sofrido evolução.

A Teoria Criacionista, como ficou conhecida no mundo científico, foi fortemente apoiado pelo Cristianismo tendo marcando fortemente a civilização ocidental nos últimos dois mil anos. O vigor com que a Igreja defendia esta teoria associada à enorme influência que exercia sobre os indivíduos, e em especial muitos cientistas, fez com que o desenvolvimento científico durante séculos nesta área fosse reduzido.

Uma das primeiras ideias-chave da Teoria Criacionista a ser posta em causa foi o conceito de imutabilidade das espécies, surgindo uma nova linha de pensamento oposta ao Criacionismo que defendia a evolução das espécies ao longo dos tempos. Este argumento evolutivo foi apresentado pela primeira vez ao mundo por Charles Darwin no seu livro On the Origin of Species by Means of Natural Selection or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life editado em 1859. Darwin defendia a existência de indivíduos que possuíam um conjunto de características que o tornavam mais apto em relação ao ambiente onde se encontrava o que permitia que sobrevivessem. Estes indivíduos mais bem adaptados ao meio ambiente transmitiam as suas características à descendência, acumulando-se desta forma um conjunto pequeno de variações que determinavam a longo prazo a transformação e o aparecimento de uma nova espécie. Ao início, Darwin sentiu grandes dificuldades para que a sua teoria fosse aceite, contudo, com o tempo e o aparecimento de novas evidências científicas que apontavam para o caminho traçado por Darwin, esta teoria começou a ter adeptos na comunidade científica.

Um dos aspectos negativos apontados a esta teoria era a inexistência de uma explicação acerca da origem da vida. Darwin não atribuía a responsabilidade do aparecimento da vida na Terra a uma entidade superior, contudo, nunca conseguiu avançar com uma explicação credível para o aparecimento de vida, pelo que a Teoria de Darwin será mais um teoria sobre a evolução da vida no planeta do que propriamente uma teoria sobre a origem da vida.

Para responder a esta questão sobre a aparecimento de vida na Terra foi necessário esperar cerca de 70 anos após a publicação da controversa obra de Darwin até que um químico russo, Alexander Oparin, avançou com uma possível explicação. Oparin defendia que em determinada época no passado a Terra possuía um conjunto de condições favoráveis ao aparecimento de vida, por geração espontânea, a partir de produtos químicos orgânicos preformados. E quais eram essas condições?

No início, cerca de 4500 milhões de anos atrás, o planeta era um conjunto de rochas onde não existia vida, a única actividade conhecida eram reacções nucleares de elementos radioactivos mais instáveis que provocaram o aumento da temperatura do planeta. Com o aumento da temperatura, as rochas começaram a fundir-se e os gases que se encontravam no seu interior libertaram-se originando a atmosfera composta principalmente por hidrogénio (símbolo químico: H). O hidrogénio combinou-se com outros elementos químicos, como o azoto (N), o carbono (C) e o enxofre (S) formando o amoníaco (NH3), o metano (CH4), a água no estado gasoso (H2O) e o ácido sulfídrico (H2S). Não existia oxigénio livre, contudo este existia ligado ao carbono, na forma de dióxido de carbono (CO2), que deve ter sido libertado do interior da Terra através da actividade vulcânica.

No período seguinte a Terra foi arrefecendo, o que teve como consequência a condensação da água no estado gasoso originando-se assim as primeiras chuvas, que criaram assim vastos oceanos e pouco profundos. Tempestades eléctricas assolavam a Terra e a radiação ultravioleta do Sol era intensa. Relâmpagos, calor e radiação ultravioleta forneceram a energia necessária para que ocorressem as reacções químicas entre os gases simples presentes na atmosfera. As moléculas mais complexas formadas deste modo, foram arrastadas pela chuva para os oceanos, pouco profundos formando uma “sopa quente e diluída”. Dentro desta “sopa” ocorreu outra reacção química que originou outras moléculas ainda mais complexas, a partir das quais surgiu a vida.

Por: António Costa

Sobre o autor

Leave a Reply