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É ácido, é ácido sulfúrico!!!

mitocôndrias e quasares

Quando pensamos, em cientistas associamos logo a indivíduos de bata branca, cabelo grisalho, com os óculos fundo de garrafa de Coca-Cola, com um postura completamente alucinado, que trabalham tendo como base enunciados matemáticos, que mais se assemelham a hieróglifos do que a ciência, e rodeados de um conjunto de aparelhos e instrumentos muito complicados!

Contudo, não é isso que se verifica uma vez que a grande maioria dos investigadores são pessoas perfeitamente “normais” que realizam experiências facilmente compreendidas pelos cidadãos.

Recentemente, uma destas simples actividades ajudou um conjunto de historiadores a determinar qual o conteúdo de pequenas ampolas de vidro, datadas do tempo da Guerra Civil Americana e encontradas num local perto de Sumter, Carolina do Sul, onde ocorreram várias combates. Estas ampolas tinham cerca de 50 milímetros de comprimentos e 13 milímetros de diâmetro e continham um líquido transparente. Que liquido misterioso era este?

Os registos da Guerra Civil indicavam que Sumter tinha sido um centro de armazéns e munições dos Confederados. Quando as forças de União, comandadas pelo General Sherman, dominaram o estado da Carolina do Sul, as tropas dos Confederados queimaram as pontes ferroviárias à volta de Sumter, deixando um comboio carregado de munições escondido num pântano. Quando as tropas da União descobriram o comboio com as munições, fizeram explodir 3 locomotivas e 35 carruagens carregadas com fornecimentos militares.

Muitas dezenas de anos mais tarde, historiadores descobriram as ampolas, empacotadas em algodão, próximas da antiga linha de comboio, surgindo, imediatamente, algumas hipóteses sobre o conteúdo das ampolas, que variava de clorofórmio, passando pelo ópio, ou mesmo nitroglicerina, apesar desta última ser altamente improvável. Contudo, foi necessário recorrer a um investigador em química para determinar com exactidão qual o composto.

O conteúdo, um liquido claro como a água e viscoso, foi transferido para um recipiente como tampa. Com a possibilidade, apesar de remota, de ser nitroglicerina, o recipiente foi manuseado com muita precaução. O primeiro passo na identificação da amostra foi determinar se era orgânica (contendo em carbono, como óleo) ou inorgânica (mineral). Para esta primeira etapa, foi misturada uma gota de água com a substância desconhecida. A amostra dissolveu-se em água, o que fez indicar que se tratava de um substância inorgânica porque, em geral, as substâncias orgânicas não se dissolvem em água. Esta adição provocou também o aquecimento muito grande do tubo de ensaio onde foi realizada a experiência.

Numa segunda etapa foi determinada da acidez da substância, verificando-se que esta era extremamente ácida, concluindo-se deste modo que se tratava de um ácido desconhecido extremamente concentrado.

Na terceira etapa, o químico adicionou cloreto de bário, formando-se um sólido branco, quimicamente designado por precipitado branco. Este precipitado resulta da presença de bário juntamente com sulfato ou fosfato. Foi neste ponto que se adicionou molibdato de amónio, que forma precipitado na presença de fosfato. O resultado foi a não obtenção de precipitado!!! Logo existia sulfato na solução desconhecida.

Esta última etapa permitiu concluir que estávamos na presença de ácido sulfúrico – H2SO4, ácido forte que contêm o sulfato. Para corroborar esta conclusão sabe-se que ácido sulfúrico se torna muito quente quando adicionado à água, o que, também se tinha verificado.

A determinação do conteúdo das ampolas mostra que a ciência nem sempre se preocupa com projectos de grande dimensão, abraçando também pequenos projectos de contribui de forma positiva para a melhor compreensão da Humanidade, apesar de ser bem mais fácil determinar o conteúdo das ampolas do que a utilização destinada ao ácido sulfúrico!!

Por: António Costa

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