É uma viagem que começa antes da partida, antes das caravelas cruzarem o mar.
O museu dos descobrimentos, em Belmonte, tem vindo a contar a história da armada de Pedro Álvares Cabral rumo ao Brasil. Ao longo de 16 salas, o visitante conhece o antes e o depois: o vazio e o enjoo do oceano, mas também a emoção da chegada. Desde 26 de abril de 2009, data em que foi inaugurado, o Centro Interpretativo “À Descoberta do Novo Mundo” (DNM) – a sua designação oficial – contabiliza até agora 35 mil visitas.
De acordo com a Empresa Municipal para a Promoção e Desenvolvimento do Concelho de Belmonte, este museu faz “mexer” todos os outros. O balanço é «positivo», diz o administrador executivo, Vítor Teixeira. Entre escolas, excursões sénior, professores, brasileiros e portugueses em geral, o DNM parece somar visitas e elogios. «Nos últimos anos temos tido um aumento gradual do número de visitantes na vila devido à existência deste museu», garante. É o turista brasileiro que lidera a lista de entradas. «Temos, aliás, a impressão que esta tendência se vai manter este ano», adianta o responsável, acrescentando que em várias feiras de turismo internacionais, a comunidade brasileira tem-se mostrado «cada vez mais interessada em conhecer a vila, pela ligação à terra natal». Na sua opinião, o museu acaba por ser «uma alavanca» da estrutura museológica que existe em Belmonte, função que era assumida até aqui pelo Museu Judaico.
Entre as várias vertentes, é à interatividade do DNM que a Empresa Municipal atribuiu o crescimento turístico verificado nos últimos dois anos. «Na maioria dos museus, as pessoas não podem mexer, exige-se mesmo algum silêncio e este foi criado de propósito para que o visitante interaja com os conteúdos», explica Vítor Teixeira. Pisar o chão para conhecer a cronologia dos Descobrimentos, navegar em ecrãs tácteis, entrar numa sala que simula o interior de uma caravela, ouvir diferentes ritmos brasileiros ou até mesmo sentir o vazio e o enjoo do alto mar são algumas das virtualidades do museu. Para Anabela Ribeiro, uma das visitantes no último sábado, foi a «emoção» de sentir a viagem de Pedro Álvares Cabral que mais a fascinou. «É um museu que emociona porque nos sensibiliza para uma característica do povo português. Podemos sentir a coragem, a descoberta, a capacidade de nos misturarmos com outras culturas de forma pacífica», considera.
Já para Rosário Macário, também de visita ao DNM, a tecnologia é, aliás, um dos aspetos que mais enriquece o espaço: «Acaba por ter um efeito em termos pedagógicos», assegura. É também este o motivo que faz com que muitas escolas do país sejam presença assídua, uma vez que «os professores acabam por utilizar o museu para dar uma aula sobre História», refere Vítor Teixeira. Ao usar a tecnologia para contar o passado, o museu dos Descobrimentos acabou mesmo por conquistar um prémio da Associação Portuguesa de Museologia, na categoria “Inovação e Criatividade”, em Dezembro do ano passado. É o quinto equipamento do género em Belmonte, depois dos Museus do Azeite, Judaico, do Ecomuseu do Zêzere e da Igreja de Santiago. Apesar dos elogios, os espaços não têm escapado às críticas de alguns comerciantes, que entendem que a venda de certos artigos no museu acaba por fazer demasiada “concorrência” ao comércio local.
Belmonte aposta em produtos Kosher
Depois de “conquistar” a comunidade brasileira, o município pretende voltar a atenção para o passado judaico do concelho. Embora admita que é perigoso trazer demasiados turistas a Belmonte, sem que haja uma oferta maior em termos de restauração e hotelaria, o administrador executivo da Empresa Municipal entende que
«com cerca de 100 mil entradas nos museus», Belmonte «pode dar mais um salto». Um dos projetos em mente visa apoiar a construção de um novo hotel que terá uma vertente kosher, disponibilizando artigos e produtos que obedecem à lei judaica. «O projeto está praticamente aprovado, estamos à espera que o empresário avance», refere. Além disso, está em vista a instalação de uma empresa para produção de alimentos kosher, como alheiras ou pernas de borrego. «Já temos um espaço na zona industrial, mas estamos neste momento a fazer um estudo económico», adianta Vítor Teixeira.
Catarina Pinto