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Do Muro de Berlim ao Burro do Putin

Ninguém se atreve já a atestar o depósito do carro. Cada semana que passa vê baixar ainda mais o preço da gasolina e do gasóleo e a tendência do movimento de preços continua descendente. Tudo começou com novas tecnologias, desenvolvidas nos Estados Unidos, que permitiram ir buscar petróleo onde antes não podia ser explorado. Entretanto, iam sendo fabricados automóveis cada vez mais eficientes, enquanto se iam generalizando hábitos mais frugais de consumo de combustíveis fósseis, nem que fosse por razões ambientais, ao mesmo tempo que a crise financeira global forçava, por outras razões, a um menor consumo de combustíveis. A China cresceu nos últimos anos menos do que o previsto, assim como o Brasil e a Rússia.

Não houve assim qualquer surpresa quando se verificou que a oferta global de petróleo excedia a procura em mais de um milhão de barris por dia. É claro, dizem os livros de economia, que numa situação destas quem necessita de vender uma mercadoria de que há excesso de oferta apenas o consegue baixando o preço. O problema é que havia muito petróleo armazenado e os proprietários, ao verem em perigo o seu investimento, decidiram transformá-lo em dinheiro antes que fosse tarde – inundando ainda mais o mercado de petróleo e forçando novas baixas de preços. A OPEP decidiu que a única forma de se voltar ao petróleo a cem dólares o barril seria levá-lo a baixar primeiro até aos quarenta dólares, de modo a tornar inviáveis as novas explorações da América do Norte.

O problema da OPEP é que boa parte dos seus membros precisa do petróleo a mais de cem dólares o barril para assegurar um orçamento equilibrado. Países como a Rússia, Angola ou a Venezuela preparam-se para a recessão e uma profunda crise económica. Durante anos, dependeram quase exclusivamente do elevado preço do petróleo para terem o estado e a economia a funcionar e não aproveitaram o muito dinheiro que entrava nos cofres para assegurar o futuro.

Em 1989, a queda do muro de Berlim e o colapso da União Soviética tiveram na origem uma baixa prolongada do preço do crude. A inviabilidade económica da URSS ficou em evidência, ao depender de uma só matéria-prima. Em 2014 essa dependência mantém-se na Rússia, como se não tivessem aprendido nada. Ao ocidente, dali, apenas chegam hidrocarbonetos e vodka, e notícias do colapso do rublo. Entretanto, Passos Coelho esfrega as mãos de contente, bem sabedor que em ano eleitoral vai ter uma benesse caída dos céus no valor de muitos milhares de milhões de euros em poupança na factura energética e em reforço do PIB (assim resolvendo, quase por milagre, o problema do défice para 2015). Perante isto, nem vale a pena recordar que o último primeiro-ministro que o PS teve, aquele que nos ofereceu a crise e a TROIKA, está na cadeia.

Mais do que Passos Coelho, preocupa-me Putin: irá ele aceitar pacificamente o colapso económico da Rússia?

Por: António Ferreira

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