A aposta num urbanismo de referência tem de ter em conta princípios que defendam o património, edifícios de interesse histórico, respeitando pessoas, história e bens, pois se assim não for não haverá lugar a um verdadeiro desenvolvimento sustentável, mas sim à continuidade na aposta da selva do betão e nos interesses que lhe estão associados, motivando as autarquias e restantes organismos a não fazerem o jogo daqueles que apostam tudo no lucro pouco se importando com a defesa do património milenar.
Os novos núcleos têm de ser diversificados tendo em consideração a população que aí irá residir, o tráfego automóvel, o pedestre, a construção de acessibilidades para deficientes, os espaços verdes, os espaços comunitários, o respeito pelos terrenos envolventes, a paisagem natural e até as tradições da construção local, sendo um verdadeiro fator de crescimento, de fixação de população e de progresso.
O desenho das ruas tem a ver com o espaço partilhado, reforçando a segurança e o conforto, gerando percursos onde o tráfego automóvel tenha em conta o volume, a velocidade, o estacionamento e também a distância a percorrer entre a residência e o local de trabalho e a mobilidade seja sinónimo de partilha, apostando no transporte público, no uso da bicicleta, criando condições para as viaturas movidas a biocombustíveis e eletricidade.
O investimento económico não deve ser esquecido respeitando as fronteiras existentes, os padrões culturais e históricos, a compra da habitação, que nem pode nem deve ser fator de especulação e, isto sem esquecer o chafariz, a linha de água, o lago, a praça principal num encontro de moradores. Para exemplificar isto miremos “nuestros hermanos” onde cada “pueblo” seja, aldeia, vila ou cidade, tem a sua “plaza mayor”.
E agora a nossa cidade.
O urbanismo de referência com que iniciei este artigo obriga-me a fazer alusão àquele nojo, cheio de lixo, verdadeira aberração, pelos vistos, legalmente implantado, ocultando parte da muralha em frente do centro comercial La Vie.
A Guarda poderia e deveria ter apostado em outras e novas centralidades a começar, desde logo, numa avenida central com inicio na Caixa Geral de Depósitos seguindo pela rua Coronel Orlindo de Carvalho, atravessando o portão norte da atual GNR continuando depois pela rua Nuno Montemor para chegar à VICEG, com uma ou duas variantes à Avª Rainha Dª Amélia, onde fosse possível desenhar um viaduto na subida do Hotel Turismo.
A outra, que agora se inicia, na rotunda da 31 de Janeiro poderia e deveria ter o seu términus junto às piscinas municipais com passagem pela rotunda dos 5 F’s (antiga “Ti Jaquina”) e isto sem esquecer a chamada variante à Sequeira que deverá ser lançada na rotunda do retail park ou na do McDonald’s para servir os bairros Nossa Senhora de Fátima, Bairro de Santo António, Sequeira, Bairro das Covas com términus no Outeiro de S. Miguel, beneficiando assim mais de um terço da população citadina, retirando o caótico trânsito da Avª de S. Miguel e “obrigando” os condutores a utilizarem a VICEG numa chegada calculada de 5 minutos ao centro da cidade.
As novas centralidades contribuem para a criação de outras e novas comunidades, com identidade própria, com motivações ambientais, ganhos em deslocações, apostas múltiplas em espaços culturais, desportivos e de lazer e em sectores diversificados da economia.
E se no país nos prometeram um rebuçado e agora apenas nos molham a chucha no açucareiro trazendo somente meia dúzia de pequenos grãos de açúcar agarrados, na Guarda com projectinho mais soft e de encher o olho, deixa-se para trás todas as grandes obras que modificariam toda uma cidade, contentando-nos com um bonito e agradável, mas muito pequenininho, danoninho.
Bendita Pátria Matria, Terra Patrum que tais filhos tens.
Por: Albino Bárbara