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«Dizer que Celorico da Beira é a capital do queijo não é só uma forma de promover, é mesmo assim»

A Feira do Queijo está de regresso a Celorico da Beira a partir deste fim-de-semana e até 26 de fevereiro

Entrevista a José Monteiro, Presidente da Câmara Municipal de Celorico da Beira

P – Dizem que a Capital do Queijo é Celorico. Isso é só uma forma de promover ou é mesmo assim?

R – O facto de dizermos que Celorico da Beira é a capital do Queijo não é só uma forma de promover, é mesmo assim. Afirmamos que o é pela qualidade, pelo número de produtores, pela certificação, pela saída do queijo, que também é muito importante, e nós sabemos que muita gente procura o nosso queijo. As pastagens, a situação climatérica, a localização das pastagens, tudo isso contribui para um bom queijo e nós temos isso.

P – O Solar do Queijo foi criado com a intenção de ser um pouco a montra do queijo da serra. Houve um tempo em que esteve um pouco parado, hoje é de novo a alavanca deste produto tradicional em Celorico da Beira?

R – Sem dúvida. O Solar do Queijo trabalha 365 dias por ano e, seja Verão ou Inverno, temos queijo colocado no mercado. Mesmo em Celorico ou fora. Sabemos que as lojas francas são servidas pelo Solar do Queijo logo, à partida, temos o nome de Celorico da Beira em todo o mundo.

P – Quantos produtores vão estar este ano na Feira do Queijo?

R – Na ordem dos 30 a 35 produtores. É o universo do concelho. Celorico da Beira, continuo a dizer, além da maior quantidade de produtores, tem uma coisa: os maiores rebanhos. Nós temos cá rebanhos com 1.000 cabeças de ovelhas, ovelhas que são de raça autóctone, a bordaleira e a mondegueira.

P – Neste fim-de-semana da feira, vai ser uma grande festa em Celorico?

R – Claro. Já no ano passado e nas edições anteriores assim foi. Mas, em 2016 , foi o auge e este ano ainda vai ser melhor. Muita gente tem telefonado a perguntar quando começa a feira, somos procurados e há milhares de pessoas aqui no fim-de-semana. Posso dizer que Celorico da Beira se transforma nesta altura do ano. Acho que foi um bom modelo alargar esta feira a dois fins-de-semana, um mais ligado ao exterior e o outro mais ligado às pessoas da nossa região.

P – Não o preocupa o facto de haver vários eventos na região no mesmo dia? Acha que há gente para tudo e que Celorico vai estar na linha da frente?

R – Sempre foi. Aliás, temos esse exemplo bem atual. Celorico da Beira não se quis colocar numa feira conjunta. Antigamente, Seia, Gouveia e Fornos tentaram fazer uma feira para deitar abaixo, se calhar, Celorico e nós permanecemos e continuamos na linha da frente. Por isso, para Celorico não faz qualquer diferença que outras feiras se realizem na mesma altura porque o nosso evento faz a diferença. No ano passado houve pessoas que passaram por Seia e Gouveia e vieram parar aqui e foram as próprias a dizerem que era completamente diferente, não só no produto, mas também na dimensão e dinâmica da própria feira.

P – O que representa para a economia e para Celorico o queijo da serra e esta feira?

R – Representa muito. Os próprios produtores são os primeiros a reconhecer que até que enfim que há uma feira em condições e que se vendeu tudo. Ficam satisfeitíssimos. No ano passado, houve produtores que no primeiro fim-de-semana venderam todo o queijo que tinham. Isto ajuda à economia local e à destas pequenas unidades, que não é uma economia de subsistência, mas é uma economia já com alguma rentabilidade. O queijo continua a ser feito manualmente, mas hoje os pastos já se tratam de outra forma, não andam de charrua, mas já andam de tratores, com maquinaria e equipamento adequado para tal. E a nível de exportações Celorico da Beira já está no quinto posto na região e isso tem muito a ver com o queijo, mas também com uma grande empresa, a Mey Têxteis.

P – Encontramos facilmente um comércio ou uma loja, que pode não ser só de queijo, mas o queijo é o seu produto de referência?

R – Sim. O produto de referência em Celorico é o queijo. E através disso Celorico quis implementar outros modelos além da feira, como o Festival do Borrego, com uma dimensão muito inferior, mas que também é uma forma de escoarmos mais um produto endógeno e de grande qualidade.

P – Para além do queijo, do borrego e do têxtil quais são as alavancas da economia?

R – A área social é muito importante e acho que fiz um bom trabalho, eu e os meus colegas do executivo, em que permitimos a dinamização desses espaços. Mas uma das coisas importantes é os transitórios. Celorico da Beira tem transitórios com grande dimensão e reconhecidos a nível nacional e internacional. São muitos postos de trabalho que são aqui colocados, podem não ser postos de trabalho fixos, mas é muito importante. Criaram-se aqui, sensivelmente, 300 postos de trabalho.

P – É um presidente de Câmara que esta a chegar ao final do seu tempo com muito otimismo em relação ao futuro de Celorico?

R – Muito mesmo. Até porque uma das nossas prioridades foi consolidar a dívida. Celorico da Beira estava numa posição ingrata sensivelmente desde 2005 até 2011/2012. Era asfixiante, vimo-nos até aflitos para pagar os salários aos funcionários. Eram situações difíceis e só quem cá passou é que tem conhecimento do quão difícil foi.

P – Portanto, o primeiro mandato de José Monteiro fica marcado por pagar dívidas e nada mais?

R – O primeiro e parte do segundo foi dedicado a esse trabalho. Vamos, se calhar, entrar em saneamento financeiro para assegurar a gestão da Câmara no futuro. Trata-se, no fundo, de obrigar os próximos autarcas – que de certo modo já estão obrigados pela Lei dos Compromissos e pela lei das finanças locais – a pagar os 10 por cento do excesso de endividamento obrigatório e depois têm que liquidar, como nós, os pagamentos em atraso.

P – 12 anos depois, José Monteiro pode afirmar que Celorico da Beira não tem problemas financeiros?

R – Tem dívida, não o podemos esconder, mas foi completamente reduzida, na ordem dos 16 milhões. Era impressionante. Foram situações asfixiantes, foi difícil gerir esta autarquia, chegou ao momento de não haver dinheiro para pagar aos funcionários. Foi uma obra importante, se calhar a maior que se fez.

P – Acha que os celoricenses ficaram defraudados por não verem serem feitas algumas obras, mas têm de reconhecer que houve uma obra que veio salvar o município em relação às sanções de dívida?

R – Essa foi a nossa grande obra, mas além disso nunca deixamos de ir a uma obra que tivesse comparticipação comunitária. Fizemos a requalificação de Santa Eufémia, Santa Luzia, fizemos habitação social. Intervimos no centro histórico e o castelo, que antes estava abandonado, hoje pode visitar-se. Fizemos a EN16, fizemos outras estradas importantíssimas, bem como a biblioteca. Fizemos trabalhos em toda a área, desde requalificações urbanísticas à reabilitação e modernização de espaços. Temos obra por todo o concelho, nomeadamente em pequenas freguesias que ninguém olhava para elas e que este presidente e o executivo olhou. Recuperámos as piscinas da Lageosa, o gimnodesportivo e o centro cultural. As piscinas municipais não estão funcionais, mas temos 700 mil euros para que o próximo presidente de Câmara possa aplicar na sua melhoria ou então que faça uma nova, se entender que não tem condições.

P – Com o passar dos anos qual é a obra que José Monteiro deixa em Celorico de que mais se orgulha?

R – A obra que de que mais me orgulho foi, de facto, a redução da dívida. Para além disso, a construção da Biblioteca Municipal foi a mais marcante. Não só pela arquitetura, mas também pela área envolvente. Ficou ali um espaço muito agradável e hoje temos muita procura.

P – Qual foi a obra que gostaria de ter feito e não conseguiu?

R – A educação. Tentei tudo por tudo. Fizemos um centro educativo, o investimento eram dois milhões e pouco, e ficou aquém porque não tínhamos dinheiro. Foi pena, porque quando falta educação falta tudo.

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