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Discursos cultos e resultados medíocres

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Imaginemos que uma narrativa culta tem um resultado medíocre. Estamos no território das normas e das construções discursivas para uma vida melhor e mais segura. Ninguém pode contestar uma missão desta nobreza. O que digo hoje é exatamente que pode e deve. Há inúmeras decisões de instituições europeias e nacionais que criam e legislam sobre imprecisões construídas em meias verdades. Por vezes uma sequência de raciocínios arrasta uma recomendação absolutamente bacoca e não refletida. Imaginemos exemplos de uma cultura baseada na negação dos costumes. Limpamos há décadas com lixívia (hipoclorito de sódio) e com este produto atingimos durante décadas um valor muito expressivo de restrição de crescimento de bactérias, morte de fungos. A lixívia mata o vírus da sida também. A lixívia é barata, não está regulada por indústria farmacêutica e foi usada séculos em tratamento de feridas e erradicação do pseudomonas. A narrativa culta decidiu destruir a lixívia procurando-lhe cada incerteza, cada pequenina imperfeição e não optou por diluir, melhorar a sua aplicação, formar os ignorantes que a usam em excesso, explicar às empregadas de limpeza que bastam dez mililitros para fazer os mesmos efeitos numa escadaria. O chão não precisa ser beijado e portanto carece de higiene e não de assépsia. Deste modo a lixívia foi quase banida das instituições de saúde em prol de caríssimos produtos desinfetantes de que não se sabe o amanhã, em prol de uma indústria feroz que vive dos gastos dos Estados e das imprecisões e falta de rigor de amadores colocados a mandar. Por detrás de toda esta gente há instituições que criam diarreias de orientações e de certezas com consequências avassaladoras nos orçamentos e na capacidade do Estado de se regular. Existe aqui compadrio com negócio? Por vezes parece que sim. Uma das narrativas cultas recentes que quase todos acreditamos como importante e necessária é a colocação de aparelhos de cardioversão em tudo o que é lugar público. Outra foi a vacina da gripe das aves. Com estas medidas gastaram-se milhões de euros que podiam ser utilizados na redução da pobreza. E tiveram avaliação? Houve alguém responsabilizado por estas normas que trouxeram milhões de euros para a via pública? As verdades incultas, as “pós verdades”, não são mais que conjeturas arrancadas a imprecisões e a dados não comprovados que bem emoldurados parecem frases irrefutáveis e caros ao povo e à sua infinita ignorância atrevida.

Por: Diogo Cabrita

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