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Direção de “Os Pinhelenses” afasta treinador

Depois de alguma especulação e diversas versões circularem sobre o meu afastamento do clube União Desportiva “Os Pinhelenses”, queria deixar aqui a minha:

Antes de mais, queria agradecer a todos os que acreditaram em mim e no meu trabalho (jogadores (alguns)/ diretores(alguns)/ amigos e família), que me apoiaram e continuam a apoiar nesta fase difícil da minha vida desportiva. Desta forma, e com o término do meu contributo à equipa e o meu consequente afastamento, cai por terra um projeto ambicioso que se iniciou há muitos anos na minha cabeça, mas que teve como ponto de partida a criação de um REGULAMENTO INTERNO rigoroso e adaptado às necessidades do clube, que eu próprio redigi!

A época iniciou-se tranquilamente, fruto de um trabalho comum e disciplinado, alcançando-se rapidamente resultados surpreendentes, contradizendo algum pessimismo de rua. Mesmo com algumas baixas, continuei o meu trabalho, no campo e fora dele, tentando ajudar o grupo, implementando uma ideologia adaptada as novas realidades sociais e desportivas, pois fazia parte do meu projeto e era um dos meus principais objetivos: dar condições físicas e psicológicas à equipa para estar pronta a enfrentar as adversidades do jogo, e da vida em geral, sendo um exemplo para os jovens e todos os pinhelenses. Através da prática de valores universais, de que tanto carece a sociedade, como o trabalho, o respeito e a disciplina, e, com determinação e paciência, iríamos, talvez, mudar algumas mentalidades que ajudariam a criar uma União mais forte à volta do clube, da cidade e da região.

Trata-se de um projeto ambicioso, talvez demasiado ambicioso, mais achei que fosse a altura certa, pela realidade social tão difícil que atravessamos, de aproximar as pessoas do seu clube, da sua cidade, dos seus jovens e consequentemente do seu futuro! Através do futebol passar uma mensagem de confiança e de esperança para a população de Pinhel, que tantas vezes perde oportunidades de construir algo de mais sustentável para o futuro, destruídas por guerras internas que em nada ajudam a cidade e o seu povo a desenvolverem-se.

Como a dimensão do projeto não atingiu toda a gente, e como acontece sistematicamente no nossa sociedade, e mais concretamente em pequenas cidades como a nossa, os interesses pessoais sobrepuseram-se aos interesses coletivos. Através de uma avaliação demasiado simples, fácil e incompleta do meu trabalho, e claro, pressionado por vozes internas e externas ao clube que mediram um projecto de médio-longo prazo a partir de resultados imediatos, sem antes analisar quais os erros cometidos; e se eu assumo os meus, através de alguma inexperiência, não posso nem devo assumir os dos outros, e não foram poucos (como erros individuais repetidos e cometidos de uma forma suspeita); sem sequer conhecer o projeto e quais os recursos que o clube tem: estruturais, financeiros e humanos, “caiu” numa decisão severa. Para alcançar vitórias imediatas temos que investir dinheiro, pois é algo que o clube, a cidade e, digamos, o país, não tem. Logo a paciência e o trabalho são valores importantes quando queremos alcançar algo de tão ambicioso. Claro que tudo tem um custo, mas não podemos continuar a comparar equipas de gerações anteriores que tiveram outras condições que a nossa realidade atual provaram ser insustentáveis e obrigar estes jovens a queimar as etapas fazendo o que muitos outros não teriam feito com as condições que eles têm hoje.

Há algum tempo soube por “portas travessas” que havia um descontentamento no clube e na direção, por razões que ainda hoje não me foram explicadas, pois por falta de trabalho não foi decerto, e chamei ao diálogo no balneário, onde uma conversa clara e objetiva teria ajudado a sarar algumas feridas, corrigir algumas falhas, se é que elas existiam, e tirar duvidas criadas por comentários especulativos. Mas os “descontentes” preferiram comentar nos cafés e na praça pública questões internas ao clube e assim provocar uma divisão na equipa e fora dela.

Facilmente se denota que não pretendiam resolver os problemas, mas sim proteger os seus interesses pessoais e com isso espalharam uma ideia de desconfiança, que provocou o meu afastamento, não sendo o primeiro, talvez seja o último.

Não vou esconder a minha tristeza, pois quem me conhece sabe o quanto me custa separar-me deste projeto e das pessoas que dele fazem parte. Também sabem o quanto me dedico às causas em que acredito serem justas e o quanto sofro quando elas não vão adiante. Mas esta experiência fez-me crescer e aprender com todas as situações que se multiplicaram durante estes meses, e vão fazer de mim um homem mais forte, preparado e disponível para novos desafios que serão bem escolhidos.

Acabo, agradecendo à minha família, em especial à minha esposa, que sempre me apoiou e motivou e que tanto “sofreu” com as minhas aventuras futebolísticas. Mas também aos jogadores e diretores que acreditaram e continuam a acreditar no meu trabalho. Para eles um grande obrigado e um até já…

Toni Silva, Pinhel

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