Foi de livros que se falou em Belmonte no passado fim-de-semana. O “Diáspora”, Festival Literário de Belmonte, transformou a vila na “capital do livro” durante os dias 7, 8 e 9 de novembro. Um evento que, segundo a autarquia, pretendeu «levar a cultura literária a toda a população e também incentivar o gosto pela leitura, designadamente junto dos mais jovens».
Na sessão de abertura, o presidente da Câmara António Dias Rocha deixou o repto: «Sintam-se em casa». Depois, o autarca centrou o desiderato do festival, asseverando que «mais do que um encontro de escritores, sonhamos estabelecer um encontro de ideias e das muitas maneiras de se dizer um país ou um idioma». A diretora regional de Cultura do Centro, Celeste Amaro, que presidiu à abertura do festival, assegurou que «Belmonte afirma-se no país pela cultura». Celeste Amaro acrescentou ainda que é necessário os concelhos marcarem pela diferença nas iniciativas, ou «será mais do mesmo». O festival promoveu a leitura e os livros através de diferentes temáticas, em debates, com autores e escritores das mais diversas origens. A primeira sessão decorreu na igreja matriz da vila, com o tema “No princípio era o livro”.
O sheikh David Munir e Francisco José Viegas foram os convidados de um debate que teve como moderador o padre Carlos Lourenço. Os convidados divagaram sobre o papel simbólico do livro nas principais religiões e em que medida o sentido sagrado do livro não foi transposto para o universo da leitura ou se seriam diferentes as religiões sem livros. Já no sábado estiveram reunidos Deana Barroqueiro, Miguel Real e João Morgado numa conversa moderada por Tito Couto. A frase “Quando decidimos ver as nações como queremos, não precisamos de sair de casa”, de Astolphe de Custin, foi o ponto de partida da discussão. Ainda no sábado refletiu-se sobre a emigração, “Um país em segunda mão”, com Karla Suárez e Ricardo Dias Felnee, com moderação de Júlio Magalhães. Pedro Vieira, Isabel Stilwell e Joaquim Vieira divagaram a partir da frase “É o coração que faz o carácter”, de Eça de Queiroz.
Fernando Pessoa deu o mote para a última conferência do “Diáspora”, “Gostava de estar no campo para gostar de estar na cidade”, em que participaram Bruno Vieira Amaral, Valério Romão e Afonso Cruz, com moderação de Tito Couto. No último debate falou-se da existência de alguns equívocos sobre o campo. Afonso Cruz relembrou a frase de José Cruz de que «O campo é um mito urbano». Depois, ainda houve tempo para uma intervenção de fundo por Álvaro Laborinho Lúcio, sobre o tema “Margens”, em que o antigo ministro da Justiça falou da marginalidade na sociedade, mas também na Cultura e em especial nos livros. A autarquia de Belmonte, a quem coube a organização, procurou também criar espaços de convívio entre a população e os convidados. Com este evento, os anfitriões promoveram o seu património e descentralizaram a cultura das grandes cidades.
O “Diáspora” teve cinco conferências, e algumas sessões em escolas, dedicadas aos mais novos. No Ecomuseu do Zêzere houve ainda lugar para as exposições “Mar” e “Futuro” dos ilustradores André Letria e Ricardo Henriques.