Quinta-feira, 30 de Outubro
O Interior: Em manchete, “Saramago, cidadão de Cidadelhe”. Chamo a atenção do nosso director. Se quer fazer capas com maus escritores, que convide a Isabel Allende. Ao menos esta fala espanhol com sotaque decente, é sobrinha de um tipo assassinado pelo Pinochet e tem um aspecto mais maternal. E “Allende em Cidadelhe” seria uma bonita lengalenga para título do jornal, com utilidade para crianças em idade escolar. Confrades do vinho, quando o efeito dos copos passar, pensem nisso.
Sexta-feira, 31 de Outubro
Independente: Aqui lê-se uma não-manchete. Um delegado de propaganda médica revela ao semanário: “Aliciei médicos para receitarem medicamentos”. Caros senhores, um jornal dá notícias. Se possível, que ainda não se saibam. Como no exemplo do homem que morde o cão ser notícia mas o cão que morde o homem não, aqui seria notícia se o senhor dissesse que nunca tinha aliciado médicos. E da próxima vez entrevistem alguém que não tenha o mesmo penteado do Santana Lopes.
Público: Noticia que a “GNR vai para o Iraque sem viaturas blindadas”. Compreende-se esta atitude do Governo. No Iraque, blindado ou não, vai tudo pelos ares. E veículos desses não são para estragar à doida. Além disso, com a preparação da força policial a lidar com os condutores portugueses na estrada, não há iraquiano que lhes meta medo. Se for preciso, resolve-se ao sopapo e à canelada. O partido da oposição com mais deputados envolvidos em mixordices com tribunais, magistrados e procuradorias costuma concordar com esta linha de acção.
Sábado, 1 de Novembro
DN: A ocupar metade da primeira página, o título “Corrupção na GNR a baixo preço”. Segundo o jornal, houve agentes subornados por 15 euros. Não percebo o espanto. Num país em crise, a polícia seria inacreditavelmente cruel se cobrasse 150 ou 300 euros pelo suborno. Ainda falam em desumanização da polícia. É bonito ver as forças da ordem do lado dos cidadãos mais desprotegidos. Estes guardas deviam era ser louvados e condecorados, não presos e condenados.
DNa: Pedro Rolo Duarte não revela esta semana quem é o autor de O Meu Pipi, depois de o ter feito na semana anterior e ameaçado umas semanas antes. Desprovida de tal informação, não percebo afinal o interesse de continuar a editar esta revista.
Domingo, 2 de Novembro
Pública: As quatro trintonas metropolitanas mais famosas do mundo vão deixar os ecrãs norte-americanos mais vazios. A HBO vai emitir no princípio de 2004 os últimos episódios de Sexo e a Cidade. No lançamento da nova grelha, lá mais para o Verão, a cadeia de televisão por cabo pretende lançar uma nova série intitulada Sexo e a Província, protagonizada por quatro mulheres bigodudas e de aventais de flanela, cuja vida sexual pacata e uniposicional é abalada pela chegada de meia dúzia de cachopas trópico-liberais. Uma espécie de Tieta do Agreste mas em versão multiorgásmica e com sotaque transmontano.
Por: Nuno Amaral Jerónimo