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Dez postos da GNR com os dias contados

O novo mapa territorial prevê ainda que Gouveia e Vilar Formoso percam os respectivos comandos de Destacamentos Territoriais

O novo mapa territorial da reforma do quadro orgânico da GNR já foi entregue no Ministério da Administração Interna pelo Comandante-Geral, Mourato Nunes. O documento prevê o encerramento de 108 postos da guarda em todo o país e 10 na região.

Pínzio e Freixedas (Pinhel), Vila Franca das Naves (Trancoso), Soito (Sabugal), Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa), Paranhos da Beira (Seia), Vila Nova de Tazem (Gouveia), Miuzela do Côa (Almeida), Unhais da Serra (Covilhã) e Caria (Belmonte) estão na “lista negra” do Governo. A reforma prevê também o encerramento de quatro comandos de Destacamentos Territoriais, entre os quais figuram os de Gouveia e Vilar Formoso. Contudo, será criado um novo em Seia. Refira-se, no entanto, que o novo mapa territorial, divulgado pelo “Correio da Manhã” na passada sexta-feira, ainda não é definitivo. Isto porque o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, estará agora a analisar o documento. A reforma da PSP e da GNR foi lançada por António Costa, o anterior ministro da Administração Interna, no final de 2005. Já este ano, a 1 de Abril, teve início no terreno a reestruturação territorial das forças de segurança. Os critérios que determinaram os fechos de postos e esquadras prendem-se com a população em causa, a criminalidade registada e a distância entre os postos.

Alguns meses antes, em Janeiro, um estudo realizado pela consultora Accenture apontava a extinção dos postos da GNR com menos de 12 efectivos e as esquadras da PSP com menos de 20. Da lista divulgada na altura, apenas “sobreviveu” o posto de Loriga, no município de Seia.

As reacções

Pouco satisfeitos com o novo mapa territorial das forças de segurança estão os presidentes de Câmara de alguns dos concelhos afectados. António Ruas, de Pinhel, considera que esta é uma «decisão lamentável que vem confirmar as piores expectativas» da autarquia. Embora à Câmara ainda não tenha chegado qualquer comunicação oficial a dar conta da extinção dos postos de Pínzio e Freixedas, o que é certo é que António Ruas está já a preparar «um conjunto de medidas de protesto», cujos contornos se escusou para já a revelar. O edil considera que o Governo deveria «criar condições para fixar a população no interior do país e não o inverso». E a prova do estado de coisas na região é «a emigração, um fenómeno que começa de novo a ser uma realidade», refere. António Ruas, que promete não ficar «calado» face a estes encerramentos, lamenta, por outro lado, que «as políticas da Administração Central venham deitar por terra todo o trabalho empreendido pelas autarquias do interior». Já Carlos Pinto não foi apanhado desprevenido.

Assim que soube da decisão de fecho do posto da GNR de Unhais da Serra, «há cerca de duas semanas», a autarquia deliberou, de imediato, o envio de um pedido de explicações à tutela. Porém, o documento «ainda não mereceu resposta», adianta o autarca da Covilhã. Carlos Pinto chama à atenção para o «enorme desenvolvimento» que Unhais da Serra irá ver em breve, graças à implementação de uma nova unidade hoteleira, pelo que o fecho do posto da GNR representará «um retrocesso na segurança da população daquela zona», considera. Um pouco menos preocupado está Álvaro Amaro. O presidente da Câmara de Gouveia recusa-se a comentar «notícias surrealistas veiculadas na comunicação social como esta». Ainda assim, sempre vai dizendo que caso se venha a confirmar o fim do Destacamento Territorial de Gouveia e a criação de outro em Seia, «poderão estar subjacentes leituras políticas». Álvaro Amaro vai aguardar por uma decisão oficial, mas explicou, com alguma ironia, que «se fosse a atentar em todos os estudos que já foram feitos nos últimos anos, Gouveia inteira estaria já fechada».

Por sua vez, Júlio Sarmento, autarca de Trancoso, concelho que irá perder o posto da GNR de Vila Franca das Naves, classifica esta medida como «altamente lesiva para a população do interior». E lamenta que, na sua origem, estejam «critérios meramente economicistas». Em comunicado, o edil apela «à mobilização da população em defesa de uma instituição que é um símbolo e garantia de segurança de pessoas e bens».

Medida «escandalosa»

Quem também já reagiu ao anúncio do fecho de vários postos de GNR na região foi o Bloco de Esquerda (BE) da Guarda, medida que os bloquistas classificam como «escandalosa».

A concretizarem-se os encerramentos previstos, «a segurança das populações do interior, onde o envelhecimento e o isolamento são cada vez mais uma realidade visível, ficará lesada», receia o BE. Neste contexto, acusa o Governo de apenas encarar os portugueses como «meras peças de um puzzle económico». Em comunicado, o Bloco chama particularmente à atenção para o fecho do comando do Destacamento Territorial de Vilar Formoso, por ser «a principal fronteira terrestre e ferroviária do país, com os inerentes problemas ligados ao tráfico de droga, imigração ilegal, prostituição e problemas sociais característicos de uma zona de fronteira», sustenta. Igualmente «estranho», diz o partido, é o facto do Estado e as autarquias terem «investido recentemente na recuperação e construção de postos da GNR que agora são encerrados». Nesse sentido, os bloquistas acreditam que esta reforma é «o exemplo da política sem escrúpulos que vem provar que maiorias absolutas, como esta que o PS detém, não passam de uma ditadura que instalou o medo».

O BE guardense acusa ainda o Governo do PS e José Sócrates de «realizarem, através de visitas, discursos e outras acções, autênticas manifestações de diversão e entretenimento dos portugueses e, sobretudo, das populações do interior do país que, a cada dia que passa mais definham». De resto, o esvaziamento dos serviços públicos na região, «sob a capa de uma pseudo-reforma», é uma realidade, a par da «falta de apoio à actividade produtiva, a ausência de medidas de fomento do emprego e a falta de apoios à fixação de empresas», lê-se ainda no comunicado.

Rosa Ramos

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