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Dez anos para certificar vaca jarmelista

Actualmente, só 30 animais reúnem as características impostas pela Direcção-Geral de Veterinária

A certificação da vaca jarmelista vai durar 10 anos e envolver várias gerações de animais. O que leva os seus defensores a pedir paciência aos produtores e mais apoios. Foi assim na última edição da Feira do Jarmelo, que é cada vez mais uma feira de carinhos. «As pessoas têm simpatia pela causa, mas é um caminho demorado e que requer apoio económico, caso contrário os produtores perdem o seu entusiasmo», avisa Agostinho da Silva,

Mas este ano há boas notícias, pois surgiram mais animais disponíveis, vindos do Feital (Trancoso), para despistagem e entrarem no processo de seriação. Esta raça autóctone em vias de extinção na zona do Jarmelo, a uma dezena de quilómetros da Guarda, está a ser alvo de um estudo, decorrendo actualmente a inseminação de fêmeas. «É para evitar cruzamentos com outras raças e criar mais novilhos puros. No entanto, só passadas várias gerações é que conseguiremos identificar, com rigor, as características da jarmelista», adianta o presidente da Junta de Freguesia de São Pedro do Jarmelo e elemento da organização da feira anual. «Começámos com 60 animais, mas actualmente só temos 30 que obedecem aos critérios da Direcção-Geral de Veterinária. É um grupo relativamente pequeno para que resulte», reconhece. Sem a importância comercial e laboral de outros tempos, a vaca jarmelista é mais um motivo de orgulho para os poucos criadores e para a própria autarquia, que a classificou recentemente de interesse municipal. O animal é, por isso, a vedeta de um certame onde os negócios já viram melhores dias. O mesmo se aplica à própria vaca, identificável pela cor acastanhada e a peculiar franja sobre a fronte.

O problema está agora nos custos da criação de um puro exemplar jarmelista: «Os produtores estão a desanimar porque é incomportável gastar 500 euros por ano para criar um animal destes. Como é uma situação peculiar, o Jarmelo devia ter uma discriminação positiva da parte das entidades oficiais», reclama Agostinho da Silva. A vaca jarmelista é um animal completo. Para além de ser boa criadora, os produtores reconhecem-lhe valor para trabalhar o campo e para a produção de carne e de leite. Só que não se consegue aproveitar economicamente estes dois atributos devido à falta de efectivos. «A carne poderia ser uma mais-valia, mas desde que fosse certificada. Já o leite é um assunto arrumado, pois a jarmelista não é uma grande produtora», reconhece. E espera que, no futuro, a Feira do Jarmelo se transforme numa mostra de gado: «Se o próximo Quadro Comunitário de Apoio o permitir, era interessante promover uma mostra de outras raças para fazer a confrontação com a jarmelista para as pessoas verem o seu valor. Eu garanto que não fica atrás das suas irmãs limousines ou charolesas», refere, anunciando que a organização está disposta a ceder a realização do certame a um organismo estatal. «Nós não temos capacidade para mais», admite. Por sua vez, o presidente da Câmara da Guarda, Joaquim Valente, sublinhou que o interesse municipal atribuído visa «reconhecer e legitimar um património do Jarmelo que poderá criar um valor acrescentado para esta região em termos económicos».

Luis Martins

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