Quando, há três anos, mudei de residência, desenhei um cartão, que enviei aos amigos, onde situava a casa na envolvente, e nessa, fazia sobressair o TMG, a Biblioteca e o Hospital. Sempre entendi que as referências, os pontos que nos orientam nas cidades devem ser fortes, em termos estéticos ou funcionais, aglutinadores, coerentes e não viverem duma qualquer moda passageira e muito menos ligados a qualquer tendência consumista, como acontece frequentemente nos tempos presentes. A biblioteca demorou, de facto, tempo demais a ser concluída. Mas ela aí está, englobando um espólio, que só pode ser enorme, desse pensador contemporâneo, Eduardo Lourenço, também ele enorme. Com uma linguagem arquitectónica clara, contemporânea, com um enquadramento notável, contribuindo, o local, o edifício e a envolvente imediata, para a valorização dum espaço que a cidade pagou caro, demasiado caro, consequência de alguma inabilidade do poder à época, que aliás também está presente noutro espaço edificado, eventualmente em pré ruína, o que muito penaliza a cidade, que é o edifício do Cine Teatro.
Gostei de ouvir que a cidade tem, agora, mais condições, entenda-se equipamentos, para se afirmar no panorama cultural da região. Concordo plenamente e, se a Biblioteca conseguir a dinâmica, o nível a diversidade e atractividade, que o TMG granjeou, a par de outros equipamentos, vamos ter uma cidade competitiva. A Cultura e o Património, são actualmente, sem sombra de dúvida, os elementos mais fortes, na atractividade que uma cidade pode exercer. Para que haja resultados é necessário concentrar esforços, investimentos, em vez de proliferar. É muito melhor ter um bom equipamento, de referência, do que muitos equipamentos, que não funcionam, ou funcionam mal e a par, carregam custos elevados.
A construção dum equipamento é, com toda a certeza, a componente mais baixa, do custo, que ao longo da sua vida, esse mesmo equipamento vai ter. Os custos com a sua manutenção, a exigência em termos programáticos, o conforto na utilização, a limpeza, a utilização diária, contrapondo à utilização uma vez no ano, obrigam a uma gestão exigente e atenta dos responsáveis.
Lembro que já tivemos uma biblioteca localizada num edifico recuperado para o efeito, com um espaço envolvente, onde o desenho era de qualidade, e, se hoje visitarmos o Quintal Medroso, ficamos desiludidos. O mesmo acontece se passarmos pelo Jardim dos Delírios, um espaço de recreio infantil e lazer, que requalificou uma área da cidade e actualmente parece vetado ao abandono. A Torre de Menagem e a sua envolvente, estão a ser alvo de mais uma intervenção. Esta, claramente mais agarrada, com objectivos mais claros e mais sustentada, do que uma outra, levada a efeito alguns anos atrás. Mas ainda assim, continuam sem solução as ruínas dessa mesma intervenção. A florista a galeria dos arcos, os percursos, não foram integrados nesta intervenção e lá continuam, alvo de vandalismo, ruínas a ameaçar ruína, contribuindo negativamente para a imagem que o visitante vai levar da zona.
O que está a acontecer no Torreão é de facto inqualificável. A intervenção Polis não programou a relocalização das instalações dos Bombeiros, para naquela zona, ter funcionado mais um estaleiro e agora ser criado um parque de estacionamento. O local, as soluções e os materiais utilizados, por exemplo na iluminação, nos muros, não foram pensados para naquela zona surgir um parque de estacionamento.
A este propósito, também não me parece correcto que na Praça Velha, a praça mais emblemática e visitada da cidade, sobre um pavimento nobre, caro, recém-intervencionado, estejam estacionados, retroescavadoras, compressor e outros equipamentos e materiais, frequentemente automóveis, que em nada dignificam o espaço. Além do mais, também sou de opinião que, o arquitecto autor do projecto de requalificação do espaço, deveria ser confrontado com a dificuldade em algumas soluções projectadas, ou outras acrescentadas, vingarem e, ele mesmo, estudar e discutir/apresentar à cidade soluções alternativas, compatibilizando interesses, necessidades, na maioria questões de pormenor, que contribuam para que, em minha opinião a, boa, solução de base consiga vingar. Não a recuperámos para isto!
A Guarda parece-me de facto uma cidade um pouco avessa a mudanças, acomodada, pouco exigente perante aquilo que lhe propõem, algo desinteressada e de ideias pré-formatadas mas não consistentes, pouco crítica. A atitude individual, e colectiva, tem de ser muito mais pró activa, exigente e atenta para que estas coisas aconteçam cada vez menos… Feliz Natal!
Por: Aires Almeida