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Deuses menores?

Entrementes

Historicamente, entende-se a Idade Média como a das trevas, ainda que tal possa não corresponder inteiramente à verdade. Foi, disso não há dúvida, um tempo de grande religiosidade e de apelo a um ser superior como explicação ou refúgio para os percalços de uma vida que a ciência, por si só, não conseguia explicar cabalmente.

Hoje, em pleno século XXI, ainda que a divindade não seja a mesma nem assuma a importância fundamental de outrora, o que é verdade é que continua a existir um alguém que comanda as nossas efémeras existências e que nos condiciona o quotidiano.

Vem todo este arrazoado a propósito daquilo a que assistimos e que nos é veiculado pelos órgãos de informação. Vemos aquilo que querem que vejamos. Lemos aquilo que querem que leiamos. Ouvimos aquilo que querem que ouçamos. E por detrás de tudo, um estratega que delineia os passos a seguir para atingir objetivos, esconsos não raro, que signifiquem controlo do poder ou dos centros de decisão do poder.

Atente-se no caso da Ucrânia, que, hoje por hoje, assume papel central no equilíbrio de forças entre os antigos blocos de leste e do ocidente. Não é decerto por acaso que o magnânimo senhor Putin apoia o movimento independentista da Crimeia. Não acredito que se deixe embalar pelos lindos olhos dos seus antigos (e pelos vistos futuros) compatriotas. O esforço da mãe Rússia é enorme e de um empenho total. Quem, ainda na passada segunda-feira, tenha assistido ao trabalho do repórter da RTP na Crimeia pôde ver como a televisão russa arregimentava uma pequena multidão enquanto entrevistava a enésima testemunha sobre o sim à independência. Estava criado o cenário… E o que fazem os Estados Unidos que tanto se arvoram em polícias do mundo…?

Veja-se também o que está a acontecer na petrolífera Venezuela onde as enormes riquezas que o crude permite não impedem um povo de viver abaixo do limiar de subsistência e sob um regime que, diabolizando todos aqueles que não são seus seguidores acéfalos, se mantém como elite de poder. Maduro, o presidente herdeiro do chavismo, recorre a apoios castristas de um regime que foi, desde sempre, uma unha encravada em pleno capitalismo norte-americano, para subsistir. Isto enquanto publica leis e ameaças, racionamento de bens de primeira necessidade e limitação de liberdades individuais, ao melhor estilo dos ditadorzecos de trazer por casa do subcontinente sul-americano.

Num e noutro caso comanda a geoestratégia e a manutenção dos equilíbrios políticos de um mundo que, definitivamente, caminha a várias velocidades de progresso. Seja de progresso económico, seja de justiça social, seja de correção das assimetrias existentes.

Num e noutro caso gerem, manipulando… Deuses verdadeiramente menores…

E nós que fazemos? Vemos, ouvimos, lemos?

Ou será que também… pensamos?…

Por: Norberto Gonçalves

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