Arquivo

Despesa ou investimento?

Editorial

1 Depois de vários anos em que Câmara Municipal da Guarda (CMG) se demitiu da sua função de mobilizadora e dinamizadora da cidade, o atual executivo apostou no inverno de 2014 em voltar a iluminar o Natal e animar as ruas da cidade – uma cidade comercial e onde o terciário é, desde há muitos anos, o sector mais relevante. Não houve nada de extraordinário nesta opção; o que era extraordinário é que o anterior executivo municipal tenha desligado dos interesses da cidade e dos guardenses levando o concelho a uma imensa escuridão.

Para este ano, 2015, o executivo de Álvaro Amaro orçamentou mais de 400 mil euros. É muito dinheiro para animação; é muito dinheiro para Natal; é muito dinheiro para réveillon!

2 Se o executivo de Álvaro Amaro tivesse oposição capaz e ousada provavelmente interrogaria a opção de gastar quase meio milhão de euros nesta quadra, enquanto algumas opções estruturantes são adiadas ou desconsideradas: da intervenção nas casas (escondidas por uma lona pela CMG) na Praça Velha à aposta numa estrutura profissional de promoção da PLIE e atração de empresários, passando pela ligação da VICEG ao Bairro da Srª de Fátima ou à invectivação da requalificação dos antigos Paços de Concelho pela CRVBI ou ao projeto do “Quarteirão das Artes”. Como a “oposição” criticou por considerar que «quatrocentos e tal mil euros é muito dinheiro» ficamos sem saber se é apenas uma questão de valor, de números, ou da ideia subjacente: é despesa e não investimento.

3 Pois bem, aprecie-se ou não, e concordando com a “oposição”: «gastar quatrocentos e tal mil euros é muito dinheiro». Mas é um investimento que faz sentido e é uma opção ganha. A Guarda não tem muitas opções – apesar de muitos iluminados na cidade acharem que sim, da possibilidade de “reerguer” a Delphi ou uma nova grande empresa (o que não acontecerá), à localização da cidade (que, como em entrevista a O INTERIOR declarou o diretor-geral da Coficab, João Cardoso, é um entrave e um custo acrescido para qualquer empresa). A Guarda tem, pois, que definir as suas opções (limitadas) e conceber de forma honesta e ambiciosa um plano para aproveitar e desenvolver as suas potencialidades. Entre elas, sem dúvida, o turismo, o lazer e a afirmação como destino de inverno – pela sua relação com a Serra da Estrela, pela Natureza, pelos bons acessos e por poder tornar-se atrativa com eventos dinâmicos, como pode ser a Cidade Natal. Está ganha a aposta em relação ao Natal, para o que muito contribui o clima ameno que se tem feito sentir, com pessoas da região a visitar a cidade, a desfrutar do espaço e da animação, a encherem os restaurantes que ainda restam e os pouco cafés que se mantém abertos e as lojas que teimam em seguir por entre as dificuldades, a falta de clientes e as vendas baixas, como consequência do atrofio a que a Guarda há muito foi votada, ainda antes da crise e da emigração dos mais jovens. Consolidar a “Cidade Natal” é um desafio, mas atrair empresas, criadoras de riqueza e geradoras de emprego é que o verdadeiro desiderato da autarquia.

Feliz Natal

Luis Baptista-Martins

Sobre o autor

Leave a Reply