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Desejo

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O desejo em carne esbatido, um desejo que se sossega partilhado, um desejo que morre depois de servido, um desejo de carne suada, um desejo que podes não ter sentido, um desejo amarrotado usado, um desejo que se mete por outro dentro e geme e aperta e sobe e desce e vai e volta e sai e entra e regressa e outra vez mais. É o desejo que se transpira antes e depois. É desejo de pessoas mortais e por isso é carne e por isso é corpo e fere e magoa e sabe bem. Todas as variáveis estão neste pecado. O mister é que o desejo dá sofrimento. O que não dizia Buda é que o desejo podia ser múltiplo e algum paga a dor que faz com a imensidão que sente. Desejos de ti no banho, de ti na cozinha, de ti no parque. O desejo por alguém é um processo quente e só por isso queima na desatenção. O desejo é uma força sem rumo que surge em forma de temporal e te desperta dos dias simples, das horas banais por caminhos melosos, lascivos, exagerados e por vezes venais. Por isso, os apaixonados perturbam os lugares públicos. Exibem seus desejos cegos de modo impudico.

Por: Diogo Cabrita

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