Um estudo europeu, “European Social Survey” (ESS), abrangendo 23 países, já na sexta edição, mostra que Portugal, Polónia e Eslovénia são os países europeus com níveis mais baixos, quer de confiança interpessoal, quer de confiança nas instituições políticas. Quanto às instituições, já o sabíamos. Cada vez mais portugueses abstêm-se nas eleições e são cada vez mais os que têm uma imagem muito negativa dos políticos e da política. Os partidos são mal vistos, todos eles, mas também o são os sindicatos, as ordens profissionais e todas as instituições em geral. Sobre todos cai a suspeita de nepotismo, de parcialidade, de desprezo do interesse geral em favor do interesse de uma casta ou de um qualquer grupo organizado.
Não deve haver procedimento mais desprezado que o concurso público para uma empreitada ou para um emprego. Não há nenhum que não suscite a suspeita de que está viciado à partida, que o vencedor está previamente determinado e que apenas se lança o concurso para dar um ar de conformidade formal ao processo de contratar alguém. Quando muda o poder, do PS para o PSD ou ao contrário, começam de imediato os rumores sobre quem vai sair e quem vai entrar nos principais lugares. Os que não dependem de concurso, os de confiança política, como dizem, são os primeiros a mudar de mãos. De seguida vêm os outros: sucedem-se assessores, avençados, aberturas de concursos para contratações dos lugares ainda em aberto nos quadros de pessoal. Os outros, os que perderam as eleições, se não se precaveram antes, com concursos lançados à pressa nos meses finais, têm de esperar pelo funcionamento da rotatividade do sistema e pela sua próxima oportunidade de acesso e distribuição aos lugares que então estiverem disponíveis. É assim em qualquer sítio, de norte a sul do país, e já ninguém parece ter grandes ilusões sobre o assunto.
De vez em quando há alguém que se decide a impugnar um concurso em tribunal administrativo, mesmo sabendo que não vai adiantar nada, que quando o processo terminar já o concorrente vencedor estará a entrar na reforma e que ele próprio, impugnante, se tiver tido juízo já terá arranjado emprego noutro lugar – de preferência noutro país.
Se esta falta de confiança nas instituições é muito má, é pior ainda a falta de confiança interpessoal que os portugueses manifestam. Os negócios não funcionam e a economia não funciona se os operadores não confiarem uns nos outros. Muitos confiam nos atrasos dos tribunais, na opacidade do sistema ou na facilidade com que as testemunhas mentem para não cumprirem contratos e muitas empresas fecham precisamente porque não conseguem cobrar os serviços prestados ou os bens fornecidos. Ao lugar comum “os políticos são todos iguais”, no sentido de que não prestam, somam-se outros como “tenho muito dinheiro na rua” ou como determinada empresa estaria muito melhor se lhe pagassem o que lhe devem, seguido de “se me pagassem o que me devem, eu pagaria o que devo”. Já não é tanto uma questão de confiança, é mais um problema, generalizado, de falta de honestidade.
Por: António Ferreira