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Desconsolados e desamparados

Editorial

1. Em 1990 havia em Portugal pouco mais de 200 mil diplomados. Em 2011 o número de portugueses com formação superior aproximava-se do milhão e duzentos mil. E em 2015 deverá haver perto de milhão e meio de portugueses com um curso superior. Os últimos anos foram de uma enorme mudança quanto ao nível de escolaridade dos portugueses. Em pouco mais de 20 anos, Portugal deixou de estar distante dos parceiros europeus. Obviamente com custos. E custos muito altos, de muitos milhões de que nunca se fala, por ser investimento estruturante, mas que foi feito…

Aliás, os mais jovens, injustamente, criticam sistematicamente o país que hoje não lhes proporciona o futuro ambicionado esquecendo-se que as gerações anteriores não tiveram sequer a possibilidade (e as facilidades) de poderem estudar, mas contribuíram com o seu trabalho para essa enorme mutação que lhes permite chegar com razoável facilidade ao ensino superior – e dar aos jovens instrumentos de sucesso e assim relativizar um dos obstáculos estruturais mais importantes que impediam o país de sair do seu ancestral atraso. Os mais jovens “são a geração mais bem preparada de sempre”, mas são-no, nomeadamente, graças ao esforço e trabalho das gerações imediatamente anteriores que definitivamente tiraram Portugal do obscurantismo em que viveu durante o salazarismo.

O país, em especial nos últimos dez anos, fez um investimento extraordinário na Educação que permite aos mais jovens terem ferramentas para ombrear com os melhores em qualquer lugar. Por isso, ou também por isso, é extraordinariamente desolador assistir à impotência na criação de emprego em Portugal; é desencorajador sermos confrontados com a desilusão de quem tira um curso; é demolidor, em termos de paradigma, verificar que a enorme aposta que se fez em elevar os níveis de escolaridade média não tem as consequências previstas; é triste quando concluímos que depois de todo o esforço de gerações haja em Portugal cerca de 90 mil jovens licenciados desempregados. Num país que já tem mais de um milhão de desempregados.

2. O eclipse total do Sol é um fenómeno relativamente raro e para o qual se recomenda sempre a utilização de óculos especiais. Já para observar o eclipse em que a economia portuguesa entrou, pelo menos desde 2011, não precisamos de óculos. Só nestes três anos o produto interno bruto (PIB) deverá cair sete por cento (acumulado) e o desemprego, essa chaga do nosso tempo, sobe de 10,9 (final de 2010) para os 17,7 por cento registados no primeiro trimestre de 2013. E com a economia anémica não é possível criar riqueza. O país empobrece, as empresas vão encerrando, os salários vão descendo e as reformas também terão de descer. Por muito que o “cisma grisalho” aguce o apetite para atacar o governo, não é possível continuar a pagar aos reformados pensões elevadas, como se tem pago até agora – essa infalibilidade faliu. A famosa “taxa de sustentabilidade” deve dar lugar a uma qualquer fórmula que deixe de fora as pensões miseráveis e as reformas baixas, mas tem de existir para quem está aposentado com rendimento superior aos que estão no ativo (cujo salário médio mensal é inferior aos mil euros), porque o país não tem dinheiro para pagar as benesses de um sistema que ruiu – não podemos continuar a ter pensões altas para os reformados poderem ajudar os filhos ou os netos. O que os filhos precisam é de ser aliviados da brutal carga fiscal que têm em cima e o que os netos precisam é de oportunidades para conseguirem governar-se sem precisar dos avós!

Luis Baptista-Martins

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