O director do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) admite que poderá ser necessário fechar algumas estradas para garantir a segurança dos automobilistas que por ali circulam. Uma «medida drástica» motivada pelo aumento do risco de derrocadas na zona provocado pela chuva registada nas últimas semanas.
«Mas por muito que se possa fazer, não se consegue resolver o problema para já. Há uma estrada fechada há dois anos na Arrábida», exemplifica Fernando Matos, adiantando ter alertado, em Agosto passado, o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) e o Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território para o problema da erosão dos solos em encostas com declives muito acentuados devido aos incêndios. Desse aviso resultou a criação de uma equipa especializada, que já está no terreno, para estudar as áreas ardidas, os habitats existentes, as zonas de intervenção prioritária e propor acções. «A informação recolhida vai ser cruzada com os mapas de declives para termos a noção de onde é necessário intervir e como», explica. O director do PNSE espera ter um relatório preliminar com algumas propostas em meados de Dezembro. Entretanto, Fernando Matos diz que os técnicos do parque já aplicaram, na zona da Teixeira (Seia), uma experiência realizada no ano passado na Serra de São Mamede: «Colocámos pequenos taludes na encosta e desentupimos as linhas de água para garantir escoamento sem arrastar detritos», refere, alertando para o facto deste método só poder ser usado em terrenos tutelados pelo PNSE. Isto é, muito menos de metade da área total do parque.
«Grande parte pertencem à Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior e a privados, e aí não podemos intervir directamente, apenas aconselhar», esclarece. Por outro lado, indica que a Estradas de Portugal (EP) tem um dispositivo para aplicar em situações semelhantes de risco de derrocadas. «Trata-se de uma malha que ajuda a suster a queda de pedras, mas isso poderá não ser suficiente», avisa. Já para o coordenador do Centro Distrital de Operações e Socorros (CDOS) da Guarda, o que aconteceu recentemente na serra ficou a dever-se mais à intensidade da chuva do que às condições do terreno. «Foram problemas pontuais de deslizamento de pequenas quantidades de detritos, mas nada de alarmante, até porque uma das zonas onde ocorreram, na Sra. do Desterro (Seia), não ardeu no último Verão», disse, destacando o facto dos bombeiros de Loriga terem actuado em permanência nas estradas mais problemáticas nos últimos dias. Mais alarmado está o vice-presidente da Associação dos Amigos da Serra da Estrela (ASE). José Maria Saraiva defende a construção urgente de taludes e o repovoamento das encostas ardidas. «Até o que resta das árvores queimadas pode servir para atenuar a erosão. Depois de cortados, deixando a base no solo, os troncos podem ser colocados no chão para formar uma espécie de teia», sugeriu. Não foi possível obter um comentário da Estradas de Portugal até há hora do fecho desta edição.
Recorde-se que o Parque Natural da Serra da Estrela é a área protegida do país com maior extensão ardida desde Janeiro. De acordo com os dados do Ministério do Ambiente, as chamas já consumiram este ano 11 mil hectares. É mais do dobro da área devastada em 2003, quando arderam 5.500 hectares. Trata-se de um número sem precedentes na história do parque, o maior de Portugal com 110 mil hectares, pasto recente de grandes incêndios nos concelhos de Seia, Gouveia, Covilhã e Manteigas, onde só na semana passada terão ardido mais de três mil hectares.
Luis Martins