Somos um país com três décadas de democracia. Mas cada dia que passa se nota menos o real conceito desta democracia. Pertencemos à União Europeia. Portugal, à semelhança de outros países da União Europeia, assinou o tratado de Shengen que permite a livre circulação de pessoas, bens e serviços em todo os espaços territoriais da Comunidade Europeia que aderiram a esse tratado. Por isso, não consigo compreender a atitude do governo português em relação à proibição da entrada de um barco holandês em portos nacionais. Será que o barco traz alguma bomba e o governo está com medo de ser bombardeado? Provavelmente, à semelhança de muitos cidadãos deste país, ando confuso com toda esta polémica e não compreendo a atitude deste governo. Primeiro, o Sr. Ministro da Defesa diz que Portugal é um país livre e democrático mas, logo a seguir, contradiz-se porque, que eu saiba, ser democrático é aceitar o direito à diferença. Gostava de saber de que é que o governo tem medo. Como é que um país sem dinheiro, com falta de ideias, e com problemas sociais gravíssimos consegue pôr uma fragata de marinha, com as despesas que daí advêm, para a nossa debilitada economia, a guardar um barco com meia dúzia de pessoas a bordo. Não seria mais frutífero gastar esse dinheiro em outras áreas onde, aliás, bastante falta faz. Foi o governo que criou esta polémica ao dar demasiada importância ao chamado Barco do Aborto. Que bom seria se os nossos governantes olhassem da mesma maneira para outros casos bem mais problemáticos e dignos de reflexão, como a imigração clandestina que todos os dias não pára de aumentar sem que nada se faça para a colmatar. Isso sim, é um problema para o governo e para o país, e não um barco que nem sequer entrou em águas portuguesas e já está a pôr o nosso sistema democrático em causa. Resta lembrar aos nossos governantes que o problema do aborto é uma vergonha para a democracia portuguesa, supostamente uma democracia aberta e moderna mas onde existem mentalidades que vivem ainda na idade da pedra. Os senhores que defendem o direito à vida são os mesmos que na prática a complicam. Os portugueses estão fartos de tanta hipocrisia.
Luís Pragana, Portimão