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Demitiu-se. Mas dá lições de moral

O secretário de Estado do Tesouro acaba de se demitir depois de sete dias enredado em explicações contraditórias sob a sua participação na venda de contratos “swap” ao Governo de José Sócrates.

Começou por dizer que não se lembrava de ter participado nas referidas reuniões. Depois explicou que nada tinha a ver com a conceção, elaboração e negociação dos referidos produtos. Em seguida admitiu que talvez tivesse estado nessas reuniões mas que só tinha a seu cargo a relação com clientes. Finalmente, perante documentos a provar que chefiou a equipa do Citigroup nesses encontros, o Governo veio dizer que tais documentos eram forjados.

Mesmo assim, Joaquim Pais Jorge toma a decisão de se demitir, 37 dias depois de chegar ao Governo. E pela sua carta de demissão percebe-se que não era a pessoa recomendada para o cargo.

Primeiro diz que não esperava que os maiores obstáculos emergissem do domínio estritamente pessoal. A não ser que considere a sua posição no Citigroup como estritamente pessoal, não se percebe o que quer dizer.

Depois, diz que se trata de uma apresentação com oito anos (deduz-se que a apresentação ao Governo Sócrates). Ou seja, pensa que o tempo deveria eliminar qualquer juízo sobre a sua atuação passada.

Em terceiro, insiste na tese de que a informação foi falseada para que incluísse o seu nome. Mas entretanto já tinha admitido (depois de ter negado) que tinha participado na referida reunião.

Finalmente, diz que as suas declarações foram exploradas e distorcidas, sendo este o lado podre da política.

Não, o lado podre da política não foi Joaquim Pais Jorge ter tentado atabalhoadamente dar a entender que nada sabia de “swaps”, que nunca tivera reunião nenhuma com o Governo Sócrates e que, se as teve, não era responsável pela venda dos “swap” ao Executivo.

Esse deve ser o lado bom da política. O mau é o tratamento mediático a que foi sujeito.

Diz Joaquim Pais Jorge que não tem grande tolerância para a baixeza que foi evidenciada. Mas para os seus esquecimentos, contradições e incoerências, pelos vistos tem uma enorme tolerância. O pior é que o país já não tem tolerância para pessoas como ele. Como se viu.

Por: Nicolau Santos

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