Não posso negar que me causa algum arrepio a demagogia e o seu inverso, a acusação quando ela não existe. Mas demagogia é um discurso montado sobre falácias ou utilização de argumentos inadequados, isto na noção mais comum do termo empregue na política. Esta semana tivemos um episódio da maior e da mais triste demagogia. O nosso Primeiro-Ministro estava satisfeito porque 5.000 pessoas tinham pedido a nacionalidade portuguesa. Estava satisfeito porque nos subestima como cidadãos e porque nos dá como sucesso até o ridículo. Sejamos claros: quem pediu para ser português? Um membro dos U2? Um cantor de rap americano? Algum actor famoso? Michael Porter? Ralf Dahrendorf? Não! Claro que são dois mil Yusefs, quinhentos Faftin, trezentas Karinas, e muitos Ibn Kassav, Abu Nazin, Nicola Povchenko, Suntu Fati, chegados de lugares onde a vida aperta, a violência assusta, de bairros favela, de barbáries indescritíveis e da mais pura e legítima vontade de viver melhor. Mas Sócrates sabe que isso é fácil, que o mérito da ambição de sair da miséria não se exorta: respeita-se. O silêncio é mais verdadeiro e sério que aquelas palavras da mais demente demagogia. Não posso perceber que o protagonista desça a níveis tão crus e tão infelizes. Eu testemunhei a favela, testemunhei os bairros de Dakar, as palhotas de Moçambique e compreendo o sonho de uma vida melhor e a sustentação do apoio ao terceiro mundo, mas não brinquem com isso, não usem crianças, não usem deficientes, não usem indefesos num programa miserável de propaganda política. Aqui só caberia dar medalhas e ovações a quem se impõe, rompendo a violência do perfume inicial como Francis Obikuelu, português com nome que sou incapaz de escrever. José Sócrates no seu pior!