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Deixem-se disso

Menos que Zero

A Câmara Municipal da Covilhã e a Associação Cultural da Beira Interior (ACBI) estão de novo em rota de colisão. Ou melhor, Carlos Pinto e Luís Cipriano pegaram-se outra vez. O motivo do mais recente conflito prende-se com a inauguração da sede da ACBI. As informações que me chegaram são confusas e, nalguns casos, até contraditórias. Por isso, até ao esclarecimento cabal da situação, prefiro salientar apenas três factos que me parecem importantes.

Em primeiro lugar devo dizer que a obra do maestro Luís Cipriano é meritória. Sem qualquer apoio da autarquia, Luís Cipriano tem obra feita em termos de produção artística, estruturas de apoio e formação de recursos humanos. Pese embora o seu feitio irascível, deve salientar-se que nunca caiu no erro grosseiro de confundir autarcas com munícipes, não recorrendo sistematicamente à ameaça de deslocar a ACBI para outros concelhos. O maestro manteve a Associação na Covilhã, conseguiu financiamentos para os seus projectos e provou que o trabalho permite materializar os sonhos.

Em segundo lugar, destacar o trabalho de Carlos Pinto à frente da Câmara Municipal da Covilhã. Carlos Pinto também tem obra feita no concelho. Os últimos seis anos são a prova de que o Interior não está condenado ao abandono e que, com alguma visão estratégica, é possível combater as assimetrias resultantes de décadas de políticas que privilegiaram o investimento no Litoral do país.

Porém, e esse é o terceiro aspecto, ambos têm personalidades fortes, sendo propensos à polémica fácil. Para piorar a situação, há um percurso político comum e, portanto, um intricado processo de dependências que tendem a acicatar ainda mais os ânimos. E é nestas situações de conflito – como neste caso da inauguração da sede a ACBI – que ambos deitam todo o trabalho a perder. Em nome do bom-senso, Carlos Pinto não devia tentar impedir a inauguração da sede da ACBI só porque faltava uma licença que muitos dos recintos públicos do concelho não possuem. Por seu lado, Luís Cipriano devia respeitar mais a instituição Câmara Municipal, não ameaçando com denúncias à União Europeia nem, muito menos, com patéticas candidaturas à Câmara só para defrontar Carlos Pinto. Com estas atitudes, ambos perdem a razão.

A Câmara Municipal da Covilhã e a Associação Cultural da Beira Interior devem tentar encontrar rapidamente dois interlocutores que permitam reatar as relações. Confundir conflitos pessoais com relações institucionais só prejudica a imagem das personalidades em causa e o trabalho que poderia ser desenvolvido em comum.

Por: João Canavilhas

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