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Defender a coesão

Editorial

1. Por culpa da Grécia, ou por causa da falta de Democracia nas instituições europeias e da cada vez menor solidariedade entre os povos da União, a construção da Europa tal como a conhecemos é cada vez mais posta em causa. E como se não bastasse a loucura que têm sido os últimos meses por causa das dificuldades gregas, o presidente francês propõe a formação de um governo da zona euro, uma «vanguarda» protagonizada por seis países (os fundadores da CEE), que contaria com um orçamento e parlamento comuns (para fiscalizar o parlamento europeu dos 28 estados membros). Esta é a forma que os franceses querem aprofundar para contrariar o ascendente alemão. Os países periféricos terão cada vez menos poder, menos influência e menos capacidade de influenciar decisões.

2. O projeto europeu é muito mais do que o Euro; é muito mais do que a Troika e os resgates de países em dificuldades; é muito mais do que interesses financeiros, regras de défice ou austeridade, o projeto europeu é sobretudo solidariedade e tem na sua fundação ideais de paz e de prosperidade comum – por isso, ou também por isso, nunca antes tinha havido um período tão longo de prosperidade contínua sem guerras na história europeia.

Perante as circunstâncias atuais e os condicionalismos que a crise financeira implica, este é um momento determinante para defendermos uma Europa unida em que a visão fundadora se deve sobrepor aos interesses individuais, ao cinismo e à desconfiança generalizada. Uma Europa solidária, com menos desigualdades e uma política de coesão aprofundada, será uma União mais forte, competitiva e sustentável.

Foi esta Europa da coesão e desenvolvimento sustentado que aprovou no mês passado um plano de investimentos estruturantes, nomeadamente ferroviários, que aposta na competitividade e no crescimento. O envelope financeiro aprovado, de 195 milhões de euros para 11 projetos de infraestruturas de logística e transportes, que inclui a ligação ferroviária Aveiro-Guarda-Vilar Formoso. Esta decisão evidencia a importância da União e releva a necessidade de mais Europa, com mais coesão e solidariedade.

3. As “oposições” e a elite lisboeta contribuíram decisivamente para promover a ideia de que Portugal gastou o dinheiro dos quadros comunitários anteriores em betão e impuseram um “dictat” europeu de menos fundos para obras. Mais, o 2020 determina mesmo que não deve haver mais investimento em estradas. E se é compreensível que os europeus olhem para Portugal e não queiram pagar mais estradas (ainda que graças às autoestradas Portugal tenha sido o país onde se registou maior descida de sinistralidade rodoviária e tenha passado a ter um índice de mortalidade nas estradas abaixo da média europeia – coisa de que ninguém fala e quando se fala é para dizer que é mérito da segurança rodoviária, leia-se GNR), o extraordinário é que a partir de Lisboa se conclua que não pode haver mais dinheiro para alcatrão porque já se gastou demasiado com estradas para o interior. Ora isto é uma falácia que é urgente contestar: em primeiro lugar, porque as autoestradas que se construíram para o interior são necessárias ao país e desencravaram as localidades do interior, depois, se há regiões onde se gastou demais em alcatrão foi no litoral (A10, A13, A17, A28, etc) e não no interior. Entretanto, há obras que não avançam e há projetos que morreram, contribuindo para a morte do interior, por causa da visão equivocada sobre a política do betão. Bem pior é a política atual, de despesismo balofo, sem consequências económicas e sem sustentabilidade, dos PROVERES, dos  PDCT, dos DLBC e outros instrumentos de suposto apoio ao desenvolvimento, mas que não compreende investimento estruturante: um regabofe à portuguesa.

Luis Baptista-Martins

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