Arquivo

De mal a pior

A expressão “breaking bad” é usada quando algo que já estava mal, fica ainda pior. É o que acontece com Walter White, um professor de química, que vivia a sua vida tranquilamente quando um diagnóstico de uma doença terminal muda tudo. Começa a usar as suas habilidades na química de outra forma: monta um laboratório de drogas para financiar o futuro da sua família. “Breaking Bad” é a mais fantástica e viciante série policial já feita.

O povo português tem uma expressão equivalente para as situações em que o nosso anti-herói se vê envolvido: “Ir de mal a pior”. E, de mal a pior, é como o nosso país vai. Não há como termos esperança quando sabemos que em 2014 nós, funcionários públicos, “culpados” de toda a desgraça que nos atinge, vamos sofrer mais uma talhada nos nossos salários. De mal a pior vão milhares e milhares de desempregados que, por não haver consumo interno, viram as empresas onde laboraram, durante décadas, fechar. De mal a pior vão as escolas onde passou a ser aceitável embutir trinta e mais alunos para que a sua educação, premeditadamente, piore ano após ano (tudo aponta para que, em poucos anos, a educação de qualidade seja possível, apenas, em colégios privados, financiados por todos nós, mas acessível apenas às elites políticas e oligárquicas). De mal a pior vão, para os seus empregos, pais e mães, por essas estradas nacionais degradadas e cheias de camiões, arriscando (ou perdendo a vida) para que os seus parcos ordenados não se sumam nos pórticos das ex-SCUT.

Por tudo isto e muito mais dá-me vontade de resolver alguns dos problemas à maneira do Walter White. É o que todos dizemos, entredentes. Estamos todos tão fartos de sermos traídos por quem elegemos! Mas temos todos tanto medo que o nosso mundo se torne ainda mais pequeno. Não confiamos em tribunais cuja balança pende sempre para os mais poderosos. Vamos de mal a pior quando processos mediáticos se arrastam durante décadas raramente terminando em condenações. Desconfiamos de deputados/advogados que legislam deixando alçapões nas leis que eles próprios aprovam e com os quais se irão governar. Sabemos que vamos de mal a pior quando vemos este (des)governo entrar nos bolsos de quem ganha 600 euros mensais, mantendo intocáveis os ricos. E é este maldito estado em que nos encontramos, em que o bolo dos nossos impostos segue para meia dúzia de chacais, que não me permite ter qualquer esperança num futuro melhor para o meu país. Foi para isto que se fez uma revolução?

Foi, pelas razões acima expostas, sem surpresa, que recebi a notícia de que os três deputados do PSD eleitos pelo círculo da Guarda tinham votado, contra, projetos da oposição que pediam a conclusão do, vital, troço da Beira Baixa. O deputado João Prata referiu que «esta obra encanzinou no tempo do poderio socialista, esta é a verdade verdadeira». Pois. O que será então uma verdade falsa? Aquela que vociferamos perante o povinho mas que não sentimos nem pretendemos defender em instâncias superiores? Deduzo que seja então uma verdade falsa a que foi propalada em algumas assembleias de freguesia de São Miguel da Guarda pelo então presidente da junta. Nestas defendeu com unhas e dentes a conclusão do troço da Beira Baixa por ser de vital importância para a região. Parece-me que a verdade verdadeira é a que assenta na covardia política. Esta materializa-se em votos às cegas. Disfarça-se num efeito de manada típico o qual permite a preservação do lugar, do tacho, da carreira política. Chamam-lhe disciplina de bancada. Vão mas é todos dar uma grande volta… e não voltem. Mas eles sabem bem que o povo, na sua memória de peixe, se vai esquecer de todas as traições a que o vão submetendo e irá, ciclo político após ciclo, voltar a “botar” nos mesmos, chamando-os de volta. Não será, por tudo isto, de estranhar, que hoje, como em antanho, continuemos a carpir as mágoas que temos pelo nosso país, no futebol, no fado ou em Fátima. É assim que eles nos querem manter e será assim que continuaremos: entretidos com merdas, ignorantes, não reivindicativos, pouco exigentes e aparentemente mansos. Até que um dia de raiva popular rebente, de novo, com o Estado, levando a um novo estado ou a um Estado Novo. Parece-me que já faltou mais….

Por: José Carlos Lopes

Sobre o autor

Leave a Reply