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De demissionário a candidato à presidência do IPG

Despachos de Jorge Mendes de exoneração de director da ESTG e nomeação de subdirector para o lugar na origem da decisão

O processo eleitoral para a presidência do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) está a ser ensombrado pela demissão inesperada de Constantino Rei da direcção da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG). O professor anunciou a decisão na semana passada, mas na sexta-feira mostrou-se disponível para avançar como candidato à cadeira maior do IPG. «Se não houver candidatos credíveis, fora das direcções das escolas e da actual presidência, eu serei uma alternativa», avisou, explicando querer «lutar contra a ditadura do professor Jorge Mendes», pois correm-se «riscos muito graves» para o Politécnico da Guarda.

Uma mudança que ficou a dever-se à decisão do presidente do IPG em exonerar Constantino Rei de imediato, nomeando em sua substituição o actual subdirector, Carlos Rodrigues, [que terá declinado o convite] em vez de marcar novo processo eleitoral. «O argumento de Jorge Mendes é de que me encontro em falta, ausente ou impedido», refere o director demissionário da ESTG, considerando os últimos despachos da presidência «uma aberração, completamente ilegais e um claro abuso de competências. É que não só não tem competências para me “exonerar”, como não pode atribuir ao subdirector competências que não são do presidente», acrescenta, assumindo que vai manter-se em funções de gestão corrente até à tomada de posse do novo director. Uma decisão já comunicada à tutela. «Claro que, para além de um processo disciplinar, tenho pela frente mais um conflito institucional e também ele terá consequências negativas para o funcionamento da escola», antevê, explicando a sua decisão como sendo a forma de evitar que a ESTG seja o «caos». È que os despachos de Mendes poderiam prejudicar de «uma forma concreta» a escola e os seus professores, impedindo nomeadamente o funcionamento do Conselho Administrativo – onde a decisão do presidente deixaria apenas um responsável – e a realização de despesas e pagamentos por força da obrigatoriedade de duas assinaturas para movimentação das contas bancárias. Por outro lado, Constantino Rei receia que o objectivo de Jorge Mendes é deixar de ter um voto «assumidamente contra» nas eleições para a presidência do Instituto marcadas para 19 de Março.

Mendes é «figura comum» a recentes polémicas

Uma “declaração de guerra” manifestada na sexta-feira, já que o director da ESTG garante que não seria candidato se não houvesse aqueles dois despachos [de exoneração e nomeação do subdirector]. «Ninguém compreende estas e outras atitudes que nos têm levado a gastar milhares de euros nos tribunais na impugnação de decisões do presidente do IPG», lamenta, acrescentando que a gestão das unidades orgânicas depende «acima de tudo» do relacionamento e forma de trabalhar do responsável máximo do Politécnico com os respectivos directores. «O que, no caso da Guarda, não acontece, pois não há união, coordenação e muito menos diálogo», adianta, dizendo não entender por que é que o presidente não faz reuniões regulares com os directores das escolas: «Ainda não há lei da autonomia, mas Jorge Mendes já está a aplicá-la», receia Constantino Rei, dizendo que a “gota de água” que fez transbordar o copo do relacionamento institucional com a presidência do Instituto ficou a dever-se ao facto do dinheiro dos diplomas ter ido parar aos Serviços Centrais, para além da recusa de inscrição de alguns alunos na ESTG e do bloqueio «completo» à progressão dos professores adjuntos na carreira docente, como é o seu caso (ver texto ao lado).

Constantino Rei não consegue encontrar explicações para este recorrente clima de instabilidade vivido em mais de 20 de existência do Politécnico guardense, mas constata que Jorge Mendes tem sido uma «figura comum» a recentes polémicas, caso dos problemas da ESTG em 1999 e de Joaquim Fernandes, mas também dos diferendos com a Escola Superior de Educação e o seu director. Quanto às eleições para a presidência, o professor de Economia está disponível para avançar por considerar que vai perfilar-se «claramente uma ausência de escolhas», mas também por querer estar de «consciência tranquila» no dia 19. «O IPG corre sérios riscos de se transformar numa ditadura ao nível das mais célebres da humanidade. A falta de capacidade, a ausência de liderança e, por vezes, comportamentos que me abstenho de qualificar, ameaçam todos quantos pensavam ter sido ultrapassado o que de pior se poderia esperar no Instituto», sentencia Constantino Rei. Até à hora do fecho desta edição não foi possível conhecer a reacção de Jorge Mendes a estas posições.

Luis Martins

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