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Data Center aquém das expetativas

Dois anos após a inauguração do Centro de Dados da PT estão por cumprir as promessas daquele que se apresentava como um «mega investimento»

A 23 de setembro de 2013 o Data Center da PT, na Covilhã, ligava-se ao mundo e com ele chegavam, não só à cidade, mas a toda a região, promessas de criação de emprego altamente qualificados e de desenvolvimento económico.

A proposta inicial era de um investimento que poderia chegar ao aos 350 milhões de euros, com a construção de quatro blocos, onde estariam instalados 50 mil servidores, e seriam criados até 1.400 postos de trabalho. «Só quem não sabe o que é a realidade, é que acredita que os quatro edifícios seriam construídos em dois anos», afirma Carlo Pinto, presidente da Câmara da Covilhã à data em que o projeto foi aprovado, segundo o qual a ampliação das instalações dependeria sempre «do preenchimento de cada um dos blocos».

O ex-autarca não tem dúvidas que o Data Center é «um enorme sucesso que até agora criou 200 empregos e continua a crescer no número de empresas alocadas». Se os resultados não são melhores, considera Carlos Pinto, «deve-se à aselhice do atual executivo municipal», que tem revelado «não saber dialogar com a PT».

O histórico social-democrata exemplifica que os “contact center” que a Altice (novos donos da PT) abriu na Guarda e em Castelo Branco «eram investimentos que podiam ter vindo para a Covilhã». Carlos Pinto vai mais longe e acusa o atual executivo camarário, liderado pelo socialista Vítor Pereira, de não conhecer o contrato celebrado com a PT, pois a empresa «tem obrigação de captar e dinamizar emprego nas zonas envolventes». A chegada do empreendimento à cidade significou também a perda do aeródromo municipal, o primeiro do país, inaugurado por Gago Coutinho e que existia naquele local desde 1943. «Perdemos a “joia da coroa”», refere o atual presidente da Câmara da Covilhã. Vítor Pereira lamenta que o antigo aeródromo tenha sido «desmantelado» por considerar que poderia ser «um posto para escoar produtos, com uma localização estratégica», além de que era também «um campo de experimentação para o curso de Engenharia Aeronáutica da UBI».

Quando o projeto foi anunciado houve vários os protestos por causa do local onde o Data Center iria instalar-se. Vítor Pereira, na época vereador, diz não entender o porquê da escolha daquele local: «Penso que foi um capricho. Apenas nos disseram que tinha de ser ali, quando poderia perfeitamente ser junto ao Parkurbis», recorda agora a O INTERIOR. Já para Carlos Pinto «a pista não era uma alavanca de desenvolvimento» e, portanto, foi fácil escolher.

Quando o Data Center foi apresentado na Covilhã «ficámos todos convencidos que se tratava de um mega investimento, de alta tecnologia e com empregos qualificados», explica o edil socialista, que esperava que daqui surgissem outras empresas, «mais dos que as que foram criadas». O clima, a geologia e a localização geográfica foram os principais motivos que ditaram a escolha da Covilhã entre 150 municípios candidatos, mas para além disso, houve outras contrapartidas para o município que ajudaram à opção da PT: isenção de taxas, licenças e impostos durante 40 anos, abastecimento de água para refrigeração de maquinaria, bem como a compra por parte da autarquia do edifício da PT no Pelourinho, cujo valor ronda os 300 mil euros.

A autarquia aguarda agora por «melhores dias» de um investimento que prometia desenvolvimento e inovação para a região. Melhores dias que podem estar comprometidos, uma vez que continuam dependentes da libertação de 17,3 milhões de euros de apoios comunitários. A única certeza neste momento é de mais promessas e Vítor Pereira mostra-se confiante quanto à questão do financiamento, sublinhado que «o Governo tem intercedido em Bruxelas e esta situação está praticamente resolvida». O autarca não nega que «queríamos já ter tido maior retorno, mas estamos na expetativa que seja criado emprego e que este investimento reverta para benefício local e regional». Segundo o autarca, é também esse o desejo do CEO da PT, Paulo Neves, que já terá manifestado interesse em «desenvolver o investimento inicial, prestando aos clientes o melhor serviço» e garantiu que «estão a ser desenvolvidos todos os esforços para a continuação do projeto».

Novo «campo de experimentação» à vista

A UBI tem realizado algumas parcerias com a PT, entre elas uma pós graduação em “Information and Communication Technologies for Cloud and Datacenter”, que inclui um estágio remunerado no Data Center. Funcionou durante dois anos, mas neste último poucos alunos foram contratados e «as expetativas eram que todos alunos ficassem a trabalhar» confessa o reitor António Fidalgo.

Este ano o curso ainda não abriu porque, segundo explicou o reitor, «falta acertar um pormenor com a Syone [uma das entidades envolvidas]». Por enquanto, o futuro da Data Center é ainda uma incógnita e com um ponto de interrogação está também o novo aeródromo municipal. Os alunos de Engenharia Aeronáutica, que antes costumavam utilizar o campo de aviação para experiências próprias do curso, têm agora de se deslocar até Castelo Branco, lamenta António Fidalgo. Vítor Pereira fala na possibilidade de construir uma «estrutura multimodal», que sirva todos os concelhos da região, mas este é um projeto que necessita ser discutido e aprovado. Entretanto, a autarquia vai assinar amanhã um protocolo com o Aeroclube da Covilhã e com o proprietário de um terreno privado na zona do Ferro para a criação de um campo de experimentação. Este espaço também vai estar à disposição da universidade, «caso assim o deseje», mas o autarca reconhece que se trata de um espaço «ainda limitado».

Ana Eugénia Inácio Dos quatro edifícios previstos apenas um está construído

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