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DABIH faz da Câmara da Guarda uma promotora imobiliária

Sociedade responsável pela construção do futuro centro comercial tem carteira recheada de projectos similares no país

A Câmara da Guarda pode passar a ser uma promotora imobiliária a partir do momento em que se tornar sócia da DABIH – Compra e Venda de Imóveis para Revenda, SA na construção do futuro centro comercial da cidade. A fazer fé na documentação que sustenta o pedido de autorização de instalação do “Guarda Mall”, remetido para a Direcção Regional da Economia do Centro, a autarquia vai integrar uma sociedade anónima com uma recheada carteira de projectos do género de Norte a Sul do país. Tudo por 5.000 euros, valor correspondente a 10 por cento do capital social de uma empresa registada em Dezembro de 2004 e com sede em Lisboa.

Este é um dos pormenores mais curiosos do processo existente em Coimbra e cujo período de discussão pública termina amanhã. Mas também uma contradição face ao que o presidente Joaquim Valente tem dito até aqui sobre a constituição da sociedade na Guarda. Outro é o facto da DABIH, participada dos holandeses da TCN, não fazer, nesta fase, prova da propriedade do terreno necessário à implantação do “shopping” na zona do mercado municipal e central de camionagem, também conhecida por Quinta dos Pelames. Pelo menos, esse elemento não foi facultado a quem consultou a documentação disponível – e terão sido cerca de meia dúzia a fazê-lo – por alegado pedido de confidencialidade da informação por parte dos promotores, quando todos os elementos do processo deveriam ser públicos. Em contrapartida estão disponíveis os estudos de tráfego, circulação e estacionamento, para além do impacte ambiental, mas pouco detalhados. Mais aprofundado é o empreendimento em si, da autoria de Capinha Lopes, apesar de novas contradições em relação ao que foi inicialmente divulgado. Uma delas tem a ver com o estacionamento, que é agora de 860 lugares, a que se somam 22 para cargas e descargas, em vez dos mil anunciados. Em termos de construção estão referenciados cinco pisos, três dos quais acima do solo, e uma área bruta locável de aproximadamente 26.190 metros quadrados.

Valente desvaloriza

O “Guarda Mall” vai ter 41 lojas, numa área total de 22 mil metros quadrados, uma das quais vocacionada para o lazer com 1.400 metros quadrados. A área da restauração terá 14 lojas, enquanto o espaço dedicado ao cinema vai ocupar dois mil metros quadrados, não sendo explícito o número de salas criadas. Já o supermercado ocupará 6.500 metros quadrados, isto é 25 por cento da área bruta locável. Em termos de emprego, os promotores do centro comercial estimam criar mil postos de trabalho directos e 2.000 indirectos. A DABIH prevê igualmente construir um terminal rodoviário urbano e um novo mercado municipal, para além de um bloco habitacional e de serviços com cerca de sete mil metros quadrados e de uma clínica, a que estão reservados 964 metros quadrados. O investimento é de 30 milhões de euros. Confrontado por “O Interior”, Joaquim Valente desvalorizou as contradições detectadas. A começar pela participação na DABIH. «É a empresa da TCN que, na Guarda, faz uma sociedade com a Câmara. Noutras cidades fará uma nova», sustentou, sublinhando que a autarquia «não vai ser parceira, nem gestora» do “Guarda Mall”. «A nossa participação na sociedade acontece com o objectivo de acompanharmos a actividade da DABIH na Guarda, para salvaguardar os interesses do município», garante.

Por outro lado, o presidente da Câmara reitera que a sua sede ficará na cidade e esclarece que o terreno da Quinta dos Pelames vai ser passado «oportunamente» para a sociedade, conforme protocolado. O que também se vai manter com este negócio são os «direitos adquiridos» dos comerciantes do mercado municipal, que funcionará transitoriamente no terreno do Bairro da Sra. dos Remédios onde ficará o parque de estacionamento dos autocarros. Quanto ao resto, Joaquim Valente é tranquilizador: «O projecto definitivo ainda não existe, nem deu entrada na Câmara. Por enquanto só estamos a falar de um estudo prévio e de um pedido de autorização de instalação de um centro comercial na cidade», acrescentou.

Luis Martins

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