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Da caranguejola à geringonça – Autárquicas à vista

Agora Digo Eu

Se Aristóteles definia a política como uma arte onde nem a imaginação nem os desafios tecnológicos deviam estar ausentes, em Portugal, em pleno século XXI, soube-se acrescentar uma série de maquinarias esquisitas, mal amanhadas e de pouco crédito. E se a caranguejola, qual traquitana velha e enferrujada, com o andamento da austeridade se desfez, os de agora substituíram-na por outra engenhoca mecanicamente complexa, diga-se em abono da verdade, ninguém lhe auguraria qualquer tipo de longevidade e, pelos vistos, começa a ter a fama do Toyota, veio para ficar e, ao que parece, até funciona.

Estamos a nove meses das eleições autárquicas e, se tudo correr como se prevê, poderá não haver alterações significativas no mapa político do distrito, mesmo sabendo que alguns responsáveis visitam todas as igrejas, andando de capela em capela, a assediar ou a tentar comprar consciências, com as habituais ofertas de promessas em troca da mudança de clube. Não é bonito, mas que se faz, faz… E se o laranjal se entretém em guerras de lana caprina em Foz Côa e se percebe que, em Manteigas, qualquer punhado de votos pode fazer oscilar os pratos da balança e as sete câmaras podem ser uma miragem, já os da rosa não estarão assim tão tranquilos em Trancoso e Figueira. E se tinham por objetivo político a apresentação dos putativos candidatos até final do ano o melhor é tirarem o cavalinho da chuva, pois ainda não conseguiram definir candidaturas em quatro concelhos e onde a paz podre de uma guerra fratricida de alecrim e manjerona se sobrepõe como verdadeiro “testamento escrito” aos interesses de “boy’s” e “girl’s” para os tachos da Segurança Social e Conselho de Administração da ULS. Esperemos para ver se a emenda não será (ainda) pior que o soneto…

E quanto à capital de distrito? Sou daqueles que não me ralo com o tabu que eventualmente será desfeito em finais de março de 2017. Tanto se me dá que o edil guardense seja candidato (ou não) à Câmara da Guarda ou a outro concelho qualquer. Percebo perfeitamente a ansiedade do PS e do PSD e o posicionamento de algumas e de alguns que se mantêm extremamente atentos, completamente empertigados, de dedo no ar e em bicos de pés.

O PS, à partida, tem perdida a maior autarquia do distrito. O PC e o Bloco de Esquerda também. Tendo em conta que, em 29 de setembro de 2013, o PSD+CDS obtiveram 12.222 votos e que desta vez o CDS já desfez o casamento e poderá não ir com o anterior parceiro da tal “caranguejola”, e “roubará” seguramente um bom punhado de votos à direita; que o PS teve 7.233, o PC, 925, o BE, 871, havendo ainda 853 votos brancos e 1.096 nulos, se houver algum tino, vontade e empenhamento político (coisas que até agora têm faltado), o PS poderá experimentar na cidade mais alta o efeito “geringonça”, somando todos os votos, tentando recuperar metade dos brancos e nulos, com uma candidatura de referência, estreitando nitidamente a desvantagem de cerca de 2 mil votos para o laranjal, relançando desta forma as autárquicas do próximo ano nesta cidade Natal. Seria bonito de se ver…

O exercício da democracia é isto mesmo e, também por cá, quando não se consegue ser fiel ao ideal dos conceitos, assumindo o facilitismo do lado travestido e hipócrita de quem se borrifou em princípios e valores, vendendo a alma ao diabo, ficando-se refém de tudo e percebe-se que o mundo caminha sempre a duas velocidades: uma, essa visão idealista, quiçá utópica, de um verdadeiro Cavaleiro de La Mancha, onde, no revés da medalha, damos conta de um entendimento materialista, saloio, protagonizada pela ridícula personagem de um qualquer Sancho Pança, mesmo sabendo que existem posições que de inocente nada têm, onde, por feliz acaso, a audácia, a festa, a romaria e o bom discurso já não são, em definitivo, os elementos de decisão de todos os cálculos.

Resta-me, caro leitor, desejar-lhe votos sinceros de um Feliz e Santo Natal.

Por: Albino Bárbara

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