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Da Alameda de Gardón até Retortillo

Agora Digo Eu

A australiana Berkeley minera, España SL está a finalizar os preparativos para poder iniciar, ainda este ano, a exploração e comercialização de urânio, passando isso pela abertura da mina em La Alameda de Gardón.

O mineral ali extraído irá ser transportado em camiões até Retortillo. Precisamente aí ficará situada a maior mina de urânio a céu aberto da Europa e está a ser ultimado o complexo industrial que permite a lixiviação, refinação, secagem e comercialização.

La Alameda de Gardón é o centro de uma enorme jazida de urânio que se estende por toda a região raiana, situando-se a uns escassos quilómetros do nosso país, 6 km de S. Pedro do Rio Seco e 10 km de Vilar Formoso. Tem apenas 80 habitantes e ali são visíveis movimentos de pessoal técnico e máquinas que indiciam a proximidade da exploração do óxido de urânio.

O mineral aí extraído será depois levado para Retortillo e assim a Berkeley minera, que entretanto foi autorizada a desviar a estrada SA – 322 ao km 30, já arrancou milhares de árvores, procederá a lixiviação estática utilizando para tanto ácido clorídrico, ácido sulfúrico, soda cáustica e as águas do rio Yeltes, que como se sabe correm para o Huebra e este, por sua vez, desagua na barragem de Saucelle, pondo em causa o maior ecossistema europeu do Douro Internacional.

A presença do mineral e os efeitos do pó põem em causa a saúde das populações, pois a inalação produz risco muito elevado de cancro no pulmão, desgastando todos os tecidos, havendo fortes probabilidades de aparecimento de malformações congénitas em homens e animais.

Quando inúmeros países europeus e até de leste estão a discutir o abandono da energia nuclear substituindo-a pelas chamadas energias alternativas limpas, Espanha privilegia-nos, a todos quantos vivemos nesta zona, com risco elevadíssimo e extremamente perigoso como é a extração do óxido de urânio, não cumprindo acordos, parcerias e convenções, nomeadamente a convenção de Espoo que determina a obrigatoriedade do conhecimento e discussão do projeto, fornecendo informações e, se for o caso, posteriores visitas, vistorias e avaliações em empreendimentos transfronteiriços que envolvam riscos ambientais.

Todo este processo envolve Miguel Arias Cañete, ex-ministro da Agricultura, que tratou este processo em Bruxelas com um conhecido lobista espanhol, atribuindo a exclusividade da concessão à Barkeley minera. Como prémio destas e de outras trapalhadas, Rajoy e o seu Partido Popular mandou-o para a Europa onde só poderia ser comissário europeu da Energia. Vá lá bem saber-se porquê!!!

No início deste ano Portugal enviou uma delegação parlamentar a Retortillo, havendo posterior unanimidade no Parlamento português em condenar estas atitudes e ações espanholas.

Alguma coisa foi feita mas para nós é considerada coisa pouca, pois toda a zona raiana está inundada de minas, fábricas, fabriquetas, armazéns, depósitos, centrais nucleares e afins. Foi e é assim Valdecaballeros, Sayago, Juzbado, Saelices El Chico, Aldeadávila de La Ribera, Alameda de Gordón, Retortillo, Almaraz.

Vai sendo tempo de despertarmos para esta triste realidade, cabendo, em primeiro lugar, ao Governo através da Agência Portuguesa do Ambiente fazer a fiscalização de tudo o que está a acontecer junto à fronteira e depois cabe-me a mim, a si, às organizações, aos autarcas das Juntas de Freguesia, das Assembleias e Câmaras Municipais, conjuntamente com as Comissões de Desenvolvimento Regional, a Assembleia da República, o Presidente da República, passar das palavras aos atos, deixando de lado lamentos, lamúrias, posturas e discursos do chamado politicamente correto.

É tempo dizer que o rei vai nu. De dar um valente murro na mesa, seja aqui, seja em Portugal, Espanha, em Bruxelas, seja lá onde for, denunciando a prepotência e a ilegalidade desta errada e ultrapassadíssima opção de nuestros hermanos.

Só assim Espanha irá perceber que por cá há alma até Almeida e lidar com a pura gente lusitana, não será decerto a mesma coisa que enfrentar os protestos inopinados dos adeptos da tal república das bananas de Puigdemont e Companhia…

Por: Albino Bárbara

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