Escreveu alguém que, com tanto esforço para resolver o problema das finanças públicas, ainda vai ser destruída a economia do país. Temos vindo, com alguns meses de atraso, a passar pelo mesmo por que passaram os gregos. Pediram ajuda internacional antes de nós, viram os juros da sua dívida pública atingir níveis estratosféricos antes de nós e descobriram, também antes de nós, que as medidas da Troika eram recessivas e que a diminuição da despesa era difícil, ou até impossível, de implementar. Estão a concluir pouco a pouco, com um avanço de poucos meses em relação a nós, que vão entrar em bancarrota e ter de sair do Euro e talvez da União Europeia.
A verdade é que vamos ter de diminuir drasticamente o peso do Estado na economia e que isso apenas se consegue com o despedimento de mais de cem mil funcionários públicos. As alternativas vão ser todas tentadas, de certeza, começando por cortar no aquecimento das escolas, na despesa em telefone dos tribunais ou em combustível e manutenção de viaturas das forças policiais e militarizadas. Isto é: vamos passar a ter um Estado ainda demasiado pesado mas muito mais ineficiente. Há alguma cegueira nos cortes previstos, que se vai tornar cada vez mais evidente. Se houver cortes orçamentais por igual em todos os serviços, os mais bem geridos vão ser prejudicados em relação aos mais gastadores, onde houver mais desperdício: a estes últimos bastará uma gestão mais eficiente para suportar os cortes; aqueles que já eram eficientemente geridos vão deixar de todo de funcionar por não haver mais, hoje, onde possam poupar. Por outro lado, não é a mesma coisa cortar no aquecimento de uma escola do Algarve ou de uma escola da Guarda. Dir-me-ão que tudo isto se resolve sempre com um pouco de bom senso, mas esta é mercadoria cada vez mais rara e de que o Governo não mostra dispor com abundância.
Até agora vimos o Governo preocupar-se sobretudo com a receita e com aumentos de impostos e taxas, sem mostrar ter previsto as consequências óbvias desses aumentos. A A25 e a A23 vão começar a cobrar portagens daqui a pouco tempo e teremos, naturalmente, de pensar em utilizar de novo as estradas nacionais e municipais. Esta reacção natural, de fugir o mais possível ao aumento de impostos procurando alternativas, sobretudo quando a diminuição do rendimento a isso obriga, acaba por torpedear a intenção destes aumentos e obrigar a outros: o Governo descobriu que as antigas SCUT mais recentemente portajadas viram significativamente reduzido o seu tráfego, o que implicou que a receita pretendida ficou muito abaixo do previsto – o que vai obrigar a novas taxas e impostos, e assim sucessivamente. Ou outro exemplo: para aumentar a receita fiscal, o Governo vai aumentar o IVA, o que vai levar a uma diminuição do consumo, por isso com menos receitas de IVA.
É verdade, e Passos Coelho tinha razão quando estava na oposição e tínhamos José Sócrates a primeiro-ministro, que quem tem de gastar menos, muito menos, é o Estado. O problema é que ninguém sabe muito bem por onde começar, a não ser condenando os nossos filhos ao mais frio e longo inverno das suas vidas.
Por: António Ferreira