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«Cruciform Theatre é um teatro de futuro»

Cara a Cara – Entrevista

P-Descrevem “Cruciform Theatre” como um teatro fora do tempo. Porquê?

R-Segundo Harvey Grossman, o criador deste conceito, o Cruciform Theatre é quase como «passar para um patamar acima das ideias e teorias de Gordon Craig». Já Gordon Craig defendia um teatro para o próximo século. Olhando para a estrutura do Cruciform Theatre, vêm-nos à ideia paredes que se cruzam. Nesta estrutura, cada espectador tem uma visão completamente distinta da peça. Existe um corte inigualável com a quarta parede teatral, que é aquilo que se vê e o que não se vê numa peça de teatro. Aqui, todo o espaço é palco e faz parte do teatro. Tendo em conta isso tudo, entendo-o como um teatro de futuro, porque é um abalo ao edifício convencional de teatro.

P-Mas o que é concretamente o “Cruciform Theatre”?

R-Federico Garcia Lorca, na “Comédia sem Título”, frisa «vocês vêm ao teatro para ver o que acontece. Mas hoje, vão ver o que vos acontece» e acho que esta ideia está muito visível neste conceito. Não é um teatro nem um espaço convencional. As pessoas são parte integrante da própria peça, da própria estrutura e do próprio teatro. É um expoente máximo energético em que tudo flui para uma ligação única a um objectivo comum, em que as pessoas acabam por fazer parte de todo o mecanismo.

P-Como surgiu a ideia de desenvolver este projecto?

R-A ideia surgiu mal conheci o Harvey Grossman, numa altura em que esteve na Covilhã a convite do TeatrUBI e acabou por encenar “Hamlet”. Nessa altura, o projecto Cruciform Theatre interessou-me muito em termos pessoais por estar ligado não só ao teatro, como às outras manifestações artísticas e até à geometria. Posteriormente, mantive-me em contacto com ele para poder desenvolver um trabalho para a cadeira de “História da Arte”. A partir daí, aprofundei ainda mais o conceito de Cruciform Theatre. Todos os elementos da ASTA mostraram interesse pelo projecto e decidimos desenvolvê-lo este ano, até porque o nosso objectivo sempre foi o de primar pela inovação, ligando a arte a toda uma nova forma de expressão artística. Como tivemos este ano um apoio do Ministério da Cultura, decidimos materializar o projecto e tirá-lo do papel, permitindo assim que o público possa conhecer este novo conceito de teatro.

P-Esta é a produção mais arrojada da ASTA?

R-Acho que todas as nossas produções têm sido arrojadas, consoante os projectos que apresentamos. Mas é claro que esta nova forma de teatro é um projecto arrojado, uma ideia inovadora e, acima de tudo, abala com o conceito do edifício teatral. Falamos de Cruciform Theatre como um conceito, mas não podemos esquecer que em termos práticos é um edifício de teatro, que assume uma forma e uma apresentação completamente distintas do que conhecemos até ao momento como espaço das peças.

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