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Crises

UTOPIA

Por Pedro Martins (11º A)

Tenho-me apercebido e tentado perceber todo um mediatismo em torno de um tema singular, repleto de pluralidades, que designa um dos maiores flagelos da população atual nestes últimos tempos (anos). Pois é, essa derradeira crise que nos tem atormentado, não apenas pelos problemas imediatos que possamos pensar mas também pela fadiga que nos causa sempre que ligamos o televisor, pegamos num jornal ou acedemos à Internet. Apesar de se falar em crise mundial, é em Portugal que me movo e é Portugal que me rala. Como não podia deixar de ser, é inevitável atribuir-se (grande) parte da culpa aos políticos, nossos governantes, que, sob uma qualquer forma de negligência, deixaram essa crise atingir tais proporções. Pessoalmente, vou para além disso. Culpo o Estado… e o Estado somos todos nós!

Mas o que é a crise? Creio que até uma pequena criança poderia avançar com uma definição de crise, por mais incompleta e rudimentar que fosse, dada a relevância que, a par do futebol, os noticiários lhe conferem. Talvez uma espécie de “bicho mau” que ataca a carteira dos adultos e faz com que estes fiquem sem dinheiro, mais pobres, afinal. É de facto esta monstruosa alegoria, que une pesadelos de miúdos e graúdos, que tem contribuído para a perda irrecuperável de incontáveis horas de sono. É, também, essa mesma crise que motiva a prática de matemáticas impossíveis, na tentativa de esticar um pequeno subsídio, uma miserável pensão, um rendimento escasso, um salário sempre curto ao fim de cada mês. Perante este cenário, à partida pouco animador, me vejo eu incapaz, ao prever acarretar todas e quaisquer consequências que dele advêm.

Ainda assim, que crise é esta? Vivemos num Estado que se diz, em conceito filosófico, solidário, que vive em conformidade com as necessidades dos mais desfavorecidos. Para tal, coexistem subsídios disto, rendimentos daquilo, pensões daqueloutro… uma infinidade. E, durante muitos anos, foram distribuídos quase aleatoriamente, sendo estes acumulados com outras fontes de rendimento. Enfim, um paraíso. No entanto, tudo se complicou, e, nos dias de hoje, que a situação se vê um pouco mais complicada e aflitiva, toda a mínima coisa motiva a erradicação de tais ajudas. (Parece que o português só “funciona” em situações-limite, quando vê que a comida na mesa escasseia, a par dos trocos no bolso. Aí é obrigado a mover-se, a reagir, procurando alcançar, novamente, uma situação similar à inicial, onde reina a política do “deixa andar… o pior ainda está para vir!”.) Perante isto, o que há a dizer? Pois que o façam, se se justificar. O Estado não pode (nem deve!) suportar estes seres parasitários. Fico envergonhado por saber que coexisto com pessoas peritas em corromper-nos, quando não declaram os seus rendimentos, vivem de rendimentos de inserção cientes de que os não merecem e que existem pessoas a atravessar dificuldades sérias, ou não trabalham porque preferem ser subsidiados, estando em casa, do que assalariados (sobretudo, quando a diferença na remuneração não é escandalosamente grande, o que é, por si só, um escândalo!). Não são raros os casos de indivíduos que usufruem de rendimentos e que, paralelamente, possuem carros potentes, casas luxuosas, uma vida (mais que) desafogada, em suma, porque simplesmente não querem trabalhar, e, está claro, é mais cómodo receber sem ter compromissos, responsabilidades. E ainda falam em crise! Mas qual crise!? É a este nível que a palavra crise acarreta às costas o pesado fardo de todos os problemas do mundo. Qualquer coisa que aconteça é da responsabilidade da crise, múltiplas vezes acusada injustamente e insultada por quem lhe deu forma e vida.

Concluo, reconhecendo a existência de uma crise, esta sim de cariz mundial, embora não tão mediática. Falo, pois claro, de uma crise de valores que vem assolando as sociedades e que está na base de tudo, mas que, apesar disso, não constitui motivo de grande preocupação para o homem (vá-se lá perceber esta gente…). Assim, se de uma crise económica nos podemos pronunciar, não tenho as mínimas dúvidas de que nos seus princípios mais remotos existiram conflitos de valores, desonestidades de grande escala movidas por interesses materiais. Deixo, por fim, um apelo que, vindo de um singelo rapaz de dezasseis anos, vale o que vale: “Necessitamos, urgentemente, de uma mudança na forma como o mundo vê o mundo. Enquanto não se considerar o outro como um eu, não será possível a prática de valores como a igualdade. É, portanto, imprescindível sermos humildes e verdadeiros. Tendo estes conceitos assimilados, a harmonia daquilo que é material será uma consequência óbvia.”

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