A Crise chegou e veio para ficar, como todos sabemos à muito instalada no nosso país, mas de todos escondida, vestida de económica, dizem ter vindo do outro lado do atlântico, chegando à Europa e assim, como por arrasto, ao nosso Portugal.
Anos de capitalismo desregulado, lucro a todo o custo, incentivo ao endividamento dos países, das empresas e das famílias. Muitos gastos acima das posses de todos ou quase todos, levaram a este estado das coisas. Mas enquanto este processo de consumos exagerados, pagos por bolsos meio vazios e suportados por taxas e juros desmedidos, mas despreocupados, deu lucro. A banca arrecadou-os, distribui-os por ricos que ficaram mais ricos, entre gestores, accionistas e outras comanditas. Mas quando o desastre financeiro à banca chegou o dinheiro de todos a despesa pagou. E agora que a crise está verdadeiramente instalada a todos pedem sacrifícios e a todos obrigam a pagar. Eles são a subida de impostos ao consumo e ao trabalho, através do IVA e do IRS, congelamento de salários e de carreiras dos funcionários públicos e de muitas outras medidas avulsas que a todos exigirão grandes sacrifícios.
E claro a culpa da crise, como sempre no nosso país, é de todos em geral e de ninguém em particular. É dos politicamente correctos e dos politicamente corruptos, é tanto dos maus patrões e maus gestores, como dos maus e improdutivos trabalhadores, é dos pobres que sempre viveram com dificuldades e dos ricos cujas dificuldades desconhecem. É assim porque neste reino democrático vestido de poderes sem causas e sem rumos não poderia ser de outra forma. Politicas e políticos de várias cores têm acrescentadas culpas, mas o povo despreocupado das causas colectivas também.
As crises, como momentos de grandes dificuldades que obrigam muitas vezes a sacrifícios extremos, podem produzir efeitos devastadores na sociedade, mas também levar-nos a encontrar novos rumos e melhores soluções. E já que quando a crise chega, todos somos chamados a pagá-la, aguardo um futuro verdadeiramente mais democrático. Sabendo todos aprender com ela e assim construirmos políticas mais solidárias, fruto de ideias partilhadas por políticos e eleitores, por patrões e trabalhadores, por ricos e pobres. Para que a culpa no futuro não morra solteira.
Por: Joaquim Nércio